Precisamos falar de escolhas.

E, principalmente, como elas não nos definem. Quando se tem uma deficiência parece que tudo se dirige a ela, mas isso, é apenas capacitismo.

Quando digo que minhas escolhas não me definem, não é apenas uma fala, mas sim conceitos que de fato dão sentido ao meu dia a dia.

Quando decidi não ter um carro, ou simplesmente, não ter carteira de motorista, logo as pessoas pensam e falam, “mas também tu nem podes dirigir, né?”, ai sempre preciso contra-argumentar “dirigir eu posso, eu simplesmente, não quero.” Mas estas explicações não são apenas uma contra-argumentação é também uma necessidade de combater o viés capacitista que sutilmente nos tornam incapazes.

Quando as pessoas me olham, seja pelo andar, seja pela minha cabeça raspada, barba comprida ou tatuagens… Logo alguém pensa “lógico, com certeza, isso é reflexo dele ser revoltado por ser como é”… E, na verdade, isso é apenas uma escolha, eu escolhi cada coisa que faço hoje e sou fruto delas.

Quando as pessoas me ouvem, leem o que eu escrevo, me contrapõem com a seguinte frase “aceite-se como você é, você não vai mudar a realidade, não vai transformar nada”… Primeiro que o processo de aceitação eu chamo de autoconhecimento e através dele entendi como eu sou e descobri minhas potencialidades, além disso, entendi que este é um processo continuo e permanente.

Mas quando falamos de pessoas com deficiência é sempre assim. Sempre a deficiência é a causa ou a consequência das nossas ações. E isso não é verdade, e pelo simples fato, de que nós podemos e devemos ser ouvidos e respeitados e isso em nada tem a ver com as nossas deficiências.

Essa percepção errada e reducionista parte de dois pontos principais: A ideia de que nós pessoas com deficiência, por conta da nossa característica, somos menos que os demais. Essa ideia ainda é forte no senso comum, mas diariamente, precisamos desconstruí-la. 

E também o viés incapacitante que se tem sobre nosso corpo e nossas atitudes, pois além das diversas dificuldades relacionadas a ausência de acessibilidade, precisamos lidar com o silenciamento de nossa voz. Quando uma pessoa com deficiência fala ela precisa ser ouvida, concordar, discordar, contrapor são processos que só existem quando a pessoa fala, e principalmente, é ouvida.

Então usar a deficiência como única característica balizadora para justificar ações e reações a determinada situação é capacitismo puro e simples, pois nos reduz a uma de nossas especificidades e diz que tudo é por ela, para ela e por conta dela.

Portanto, se uma pessoa com deficiência disser que não deseja fazer algo, dedique-se a entender as razões, pois enquanto justificarmos tudo a partir da deficiência não estaremos incluindo.

Adquira meu livro:

Sentado Tu é Normal e Outras Crônicas