Perguntas Frequentes

 
 

* O que é e como surgiu a neuropelveologia?

A neuropelveologia foi idealizada em 2003 pelo médico francês, radicado na Suíça, prof. Marc Possover e trazida ao Brasil pelo Dr. Nucelio Lemos. Trata-se da união de técnicas cirúrgicas ginecológicas aos princípios da neurocirurgia, trazendo esperança a diversos pacientes já conformados com dores crônicas nas pernas e região glútea, paraplégicos, tetraplégicos, amputados com dores em membros fantasma, além de casos de incontinências urinária e anal e endometriose. Isso porque, esta abordagem oferece novas perspectivas aos médicos, que passaram a combinar técnicas e tecnologias utilizadas em diferentes áreas. A videolaparoscopia, por exemplo, hoje é combinada a outras tecnologias, atingindo regiões de difícil acesso. Com isso, tem sido possível tratar uma série de alterações funcionais dos nervos lombares e sacrais, responsáveis pelo controle das pernas, bexiga, reto, órgãos genitais, porção final do intestino, uretra e ânus.

*Esse tipo de técnica e implante de eletrodos pode beneficiar pacientes com que doenças? Há estudos em andamento para outras doenças? 

Este tipo de tratamento pode beneficiar pacientes paraplégicos por lesão ou por uma série de doenças que afetem o neurônio motor superior como derrames, esclerose múltipla, doença de Devic, entre muitas outras. O neurônio motor superior é o neurônio que vem desde o cérebro até a medula e que controla os movimentos. 

De forma simples e direta, este procedimento serve para pacientes paraplégicos que têm espasticidade e incontinência urinária por bexiga neurogênica espástica. Alguns pacientes tetraparéticos com lesão medular incompleta, quando nem todos os neurônios da medula são seccionados, também podem beneficiar-se.

 

* Quais pessoas poderão se beneficiar com esta nova abordagem?

Pacientes com dores crônicas nas pernas e na região glútea, bem como dores em membros fantasma, no caso de amputados, são alguns exemplos. Este pacientes são, geralmente, tratados como tendo uma hérnia de disco ou, simplesmente, como tendo uma ciatalgia (dor do nervo ciático), sem um diagnóstico preciso da causa. Em geral, não apresentam alterações na ressonância magnética que justifiquem a intensidade dos seus sintomas. Muitos destes sintomas podem ser causados por traumas de parto, varizes pélvicas causadas pela própria gestação, assim como fibrose decorrente de infecção ou cirurgias pélvicas.
Paraplégicos, tetraplégicos e outros portadores de incontinências urinária e anal poderão ter melhora substancial na qualidade de vida com a retomada destas funções. Casos de síndrome da bexiga hiperativa resistente aos tratamentos tradicionais, dores na perna ou na região glútea, especialmente durante atividade física ou no período menstrual são outras possibilidades. Por ser uma nova abordagem, muitos estudos ainda vêm sendo realizados para a descoberta de novas aplicações.

* A quem as técnicas da neuropelveologia podem ser indicadas?

Potencialmente, qualquer pessoa (homem ou mulher) que tenha sido submetida a uma cirurgia pélvica (para tratar problemas do intestino, bexiga, próstata, vagina, útero, trompas ou ovários) e começou a apresentar dores na região glútea ou nas pernas, ou ainda dificuldade para urinar ou evacuar, ou incontinência urinária e/ou anal (gases e/ou fezes) pode se beneficiar das técnicas da neuropelveologia.

Os procedimentos de maior risco para lesões nervosas (além da endometriose) incluem cirurgias para correção de prolapsos genitais, cirurgias de próstata, cirurgias para câncer do intestino e qualquer outro procedimento ginecológico, proctológico ou urológico no qual tenha ocorrido alguma complicação como formação de hematomas, infecções pós-operatórias ou dor pós-operatória maior do que o habitual.

A neuropelveologia, obviamente, não é capaz de resolver todos estes problemas, mas representa uma esperança e a solução de muitos casos.

* Como é possível beneficiar pacientes de casos tão distintos partindo de um mesmo princípio?

Esta nova técnica, entre as diversas vantagens, permite que sejam implantados neuromoduladores na região pélvica, que voltam a oferecer estímulos e controle aos nervos sacrais, devolvendo, por exemplo, o estímulo nervoso à bexiga, permitindo a retomada do controle urinário. Também é possível, por meio da laparoscopia, diagnosticar e tratar de uma só vez, como no caso da endometriose. Para estas pacientes, é possível em um mesmo procedimento localizar a endometriose e realizar sua remoção. 
 

* Quem é o especialista capacitado para a cirurgia neurofuncional pélvica?

Com o surgimento da neuropelveologia, surge também a necessidade de uma nova especialidade na medicina: a cirurgia pélvica. Assim como já existe, por exemplo, o cirurgião de cabeça e pescoço, em breve esta será uma especialidade reconhecida em todo o mundo. Por enquanto, estabelece-se uma nova área de atuação na intersecção de diversas especialidades, como a ginecologia, urologia, neurologia, ortopedia, coloproctologia, entre outras. E assim como já acontece em países como a França ou a Alemanha, hoje no Brasil temos em todas estas áreas aqueles que se especializarão especificamente na parte cirúrgica de suas especialidades.
Na ginecologia, por exemplo, são médicos que não fazem obstetrícia, nem consultas de rotina, e buscam conhecimentos de outras áreas, trazendo para si novas cirurgias, dissecando espaços antes inexplorados na ginecologia. Assim como eles, outros, oriundos de outras áreas, têm se voltado para os implantes laparoscópicos de eletrodos, oferecendo às pacientes uma alternativa de tratamento um pouco menos mutilante.
Desse modo, cirurgiões pélvicos (ginecologistas, urologistas ou coloproctologistas) capacitados em laparoscopia avançada que se capacitem no diagnóstico e abordagem de lesões dos nervos pélvicos (conceitos da neurocirurgia), bem como neurocirurgiões que se capacitem em procedimentos laparoscópicos avançados, poderão oferecer aos pacientes os benefícios da neuropelveologia.
O primeiro médico brasileiro capacitado pelo professor Marc Possover foi o ginecologista Nucélio Lemos, editor deste site.
 

* Quais as vantagens específicas para paraplégicos e tetraplégicos?

Uma das principais queixas de paraplégicos e tetraplégicos é a falta de controle das funções urinária e evacuatória. Esta condição obriga estes pacientes a utilizar sondas vesicais para esvaziar a bexiga, a lavagens intestinais para esvaziar o intestino e à necessidade do uso de fraldas. O impacto negativo desta condição na qualidade de vida destes indivíduos é tremendo.
Muitos destes pacientes, no entanto, já podem ser submetidos à cirurgia neurofuncional, para que tenham o nervo disfuncional modulado e devolvendo o controle urinário e evacuatório. Isto é alcançado por meio do implante de um neuromodulador com controle remoto, com programas específicos para situações do dia a dia. Alguns pacientes operados com esta técnica estão conseguindo, inclusive, ficar de pé e caminhar com o auxílio de um andador. Com isso, estes pacientes têm melhora substancial na qualidade de vida.
 

* A reabilitação neurofuncional por meio de implantes de neuromoduladores pode substituir procedimentos realizados atualmente?

Sim, é exatamente isso o que busca a Neurpelveologia. Muitos procedimentos mutilantes, debilitantes ou pouco funcionais realizados em pacientes neurológicos, em particular lesados medulares, poderão dar lugar ao conceito da cirurgia neurofuncional. Estão entre estes procedimentos a uretrotomia (secção do esfíncter uretral para desobstruir o fluxo urinário, que leva à incontinência), rizotomia (secção das raízes sensitivas, reduzindo ou abolindo a espasticidade), uso de relaxantes musculares de ação central (reduzem a atividade da medula e do cérebro, causando sonolência e indisposição) e da toxina botulínica (pouco funcional apesar da ação específica).  

* Planos de saúde já cobrem o procedimento?

Não, por enquanto o novo método ainda é realizado somente de maneira experimental e em casos selecionados. Ainda assim, só são possíveis quando o próprio pacientes tem condições e arcar com os custos, ainda muito elevados. Esperamos, no entanto, que, com o tempo, este procedimento obtenha a comprovação científica necessária para que sejam padronizados pelos planos de saúde, inclusive o SUS, permitindo que esteja acessível a um maior número de pacientes.  
 
(A minha pretenção é conseguir do plano, mesmo que seja juridicamente.) Visite o site: http://www.neurodisfuncao.med.br/

Dr. Nucelio Lemos
Coordenador científico do site Neurodisfunção Pélvica, o Prof. Dr. Nucélio Luiz de Barros Moreira Lemos é graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 2003. Concluiu o Doutorado em Medicina, área de concentração em Tocoginecologia, nesta mesma instituição em 2008.