A Universidade de São Paulo montou uma coleção inédita de células tronco que vai ajudar a medicina no futuro, especialmente no teste de medicamentos. É como se fossem 1,8 mil brasileiros congelados a quase 200 graus abaixo de zero. As células são um tesouro 100% brasileiro usado em uma pesquisa que vem ganhando reconhecimento internacional.

Ela está acontecendo em um laboratório da USP que já usou parte do material para cultivar células-tronco. Além de pulsar, elas podem se transformar em células de órgãos como coração, fígado ou em neurônios. Mas em coração, fígado e neurônios com a nossa mistura genética de índios, negros, europeus. E isso pode fazer diferença.

“Se um medicamento é testado na Europa e nos EUA e funciona bem lá e é aprovado, isso não quer dizer, com certeza, que ele vai funcionar da mesma forma em populações com genética diferente. Como é a nossa. Então, se a gente puder ter a nossa população em forma de células, que é o que a gente está fazendo agora, a gente pode um dia testar esses medicamentos nas células dos brasileiros para prever se ele vai ser tão bom pra gente, se ele vai ser tóxico ou não. Antes de testar nos pacientes”, diz a chefe do laboratório nacional de células-tronco, Lygia da Veiga

E essa ciência de ponta acontece graças a voluntários de carne e osso como a aposentada Wanda Gutierrez. Ela e outros 15 mil brasileiros já vinham dando o sangue, participando de um outro estudo cientifico. Juntas, essas duas investigações podem revelar muito sobre as nossas doenças, os tratamentos e a cura pra elas.

O estudo com as células-tronco pegou carona num outro mais antigo chamado de Elsa (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto). Ele começou em 2008 e já revelou que 2/3 dos voluntários estão obesos ou acima do peso, 1/5 tem diabetes e quase metade colesterol alto. Ao todo, 10% dos que tomam remédio para pressão alta não respondem bem ao medicamento. São problemas e enigmas que as duas pesquisas juntas têm mais chance de responder no futuro.

“De certa forma nós vamos estar quebrando algumas etapas. Porque hoje nós precisamos primeiro testar em animais, depois fazer um teste de segurança em seres humanos muito saudáveis para depois começar a verificar se o medicamento funciona ou não nas pessoas doentes. Utilizando essa técnica, no futuro, nós já vamos conseguir ter ideias, pistas, se o medicamento funciona ou não ou então se ele funciona para algumas pessoas e para outras não”, explica Paulo Lotufo, professor da faculdade de medicina da USP.

Wanda Gutierrez tem muito orgulho de cada gota de sangue que vem entregando para a ciência. “Eles vão descobrir bastante coisas que vai melhorar pras gerações futuras. Meus netos, bisnetos.”

Source: Jornal Nacional – USP monta coleção inédita de células-tronco para ajudar medicina no futuro