Aplicativo Veever vai auxiliar cegos com audiodescrições de palcos e outros estruturas do evento, que começa nesta sexta-feira (27); grupo de deficientes testou a tecnologia na Cidade do Rock.
 
Por Ederson Hising, G1 PR — Curitiba
 
                   Pra cego ver: Foto mostra grupo de 13 pessoas que participou do teste do aplicativo Veever em palco do Rock in Rio na noite de terça-feira (24). Ao fundo, uma roda gigante e pessoas que trabalhavam na montagem do evento. — Foto: Veever/Divulgação
Pra cego ver: Foto mostra grupo de 13 pessoas que participou do teste do aplicativo Veever em palco do Rock in Rio na noite de terça-feira (24). Ao fundo, uma roda gigante e pessoas que trabalhavam na montagem do evento. — Foto: Veever/Divulgação
 
Um aplicativo desenvolvido por uma startup de Curitiba vai possibilitar maior acessibilidade para deficientes visuais no Rock In Rio 2019, que começa nesta sexta-feira (27). Cegos e pessoas com visão comprometida poderão ter acesso a informações sobre a Cidade do Rock transmitidas por comando de voz.
 
Cerca de 60 dispositivos bluetooth foram instalados no local para que, ao acessar o aplicativo Veever e apontar o celular em determinadas direções, os deficientes visuais recebam audiodescrições sobre tamanho, formas e cores de palcos e outras áreas do festival.
 
Um grupo de deficientes visuais do projeto Ver com as Mãos, de Curitiba, visitou a Cidade do Rock na terça-feira (24) para testar o aplicativo. “Achei bem bacana porque tem descrição dos locais. É muito bom para se localizar”, afirma Laura Kaiser, de 18 anos, que participou do teste.
 
Ela conta que nasceu com um glaucoma congênito. Gradativamente, a jovem foi perdendo a visão. “Começou a ficar bem ruim aos 16 anos. Hoje, enxergo bem pouquinho. Faço as coisas normalmente, mas se fosse uma pessoa cega”, explica.
 
Laura afirma que nunca tinha visto uma tecnologia que auxiliasse pessoas com deficiência visual como o Veever. “O aplicativo ainda está em desenvolvimento, mas vai ajudar bastante. Principalmente em locais de grande movimentação”, diz.
 
De onde surgiu a ideia
 
Um convite para fazer um trabalho voluntário no Instituto Paranaense de Cegos, em Curitiba, permitiu que um dos sócios da startup, João Pedro Novochadlo, conhecesse a dificuldade dos deficientes, como saber qual linha de ônibus estava passando no ponto.
 
“Não tenho ninguém cego na família e, até então, não tinha amigos com essa deficiência. A ideia era garantir a autonomia a essas pessoas. A gente não resolve, mas minimiza”, afirma Novochadlo.
 
Em 2016, durante uma maratona de programação organizada pela prefeitura a proposta ganhou corpo. “Tivemos um hiato com a troca de gestão no município e com a saída de algumas pessoas do projeto, mas no começo do ano passado revivemos a ideia”, conta.
 
Curiosamente, o aplicativo ainda não foi validado no transporte público. “O Rock in Rio vai ser nosso primeiro grande teste”, afirma. “Já testamos em escolas, museus, sempre com pessoas cegas. Não adianta pensar como um cego, mas sim pensar com um cego”, explica.
 
Pra cego ver: Foto mostra um celular com o aplicativo Veever em funcionamento. O aparelho está em cima de embalagens como se fossem caixas. — Foto: Veever/Divulgação
Pra cego ver: Foto mostra um celular com o aplicativo Veever em funcionamento. O aparelho está em cima de embalagens como se fossem caixas. — Foto: Veever/Divulgação
 
Como o aplicativo foi parar no Rock in Rio
 
De acordo com o sócio, a startup estava trabalhando “de forma mais tímida” no aplicativo. O projeto, segundo ele, conta com uma empresa como investidora na parte técnica e outra para auxiliar na parte da audiodescrição.
 
Porém, um contato acelerou o processo. Mesmo sem saber do que se tratava exatamente, Novochadlo foi até o Rio de Janeiro (RJ) para encontrar um interessado na ideia.
 
“Acharam a gente de alguma forma na internet, mas foi omisso em relação a quem queria”, conta. “Quando a gente chegou lá, descobrimos que era uma demanda do Rock in Rio”, afirma.
 
Fonte: g1.globo.com