Ensaio fotográfico desperta reflexão sobre deficiência física e intelectual em crianças

O convite surgiu despretensioso nas redes sociais. Pouco a pouco as mães atenderam ao chamado. Vieram de vários recantos, trouxeram seus filhos e filhas. No dia combinado, protagonizaram suas histórias na frente de uma máquina fotográfica.

 

Um ano depois daquele primeiro passo ser dado, o projeto Fonte de Luz permanece como uma reflexão sobre o universo das crianças com deficiência física ou intelectual.

Se uma parcela da sociedade exclui, a fotógrafa Lívia Neves, 33 anos, abraça. Especialista em eternizar momentos de partos normais, ela decidiu aprender mais sobre imagens infantis lançando um olhar atento sobre meninos e meninas até então pouco retratados.

Além de perceber a ausência de ensaios com crianças com Síndrome de Down ou paralisia cerebral, por exemplo, Lívia também despertou para o tema durante a apresentação do filho, com 5 anos na época, em uma feira de ciências da escola. “O cromossomo 27 é o que faz a pessoa com Down ser diferente, mas ele tem braço, olho e cabelo igual a mim, disse meu filho.

A partir daí tive a ideia de fazer o convite para as mulheres especiais no Dia das Mães, no ano passado”, conta a fotógrafa.

As descobertas de um cenário desenhado por preconceito e exclusão surgiram a medida que o ensaio avançava. “Vou fazer as fotos de uma criança na praia que nunca foi ao mar. A mãe me contou que tinha vergonha de expor o filho para ele não ser apontado por outras pessoas. Certa vez também já ouvi de uma fotógrafa que as fotos dessas crianças não são um ‘produto bonito’”, lamenta Lídia.

A fotógrafa calcula já ter retratado cerca de 15 mães com suas crianças. O ensaio é feito preferencialmente na Praça da Jaqueira, no Recife, ou na Praça do Carmo, em Olinda. Em troca, as famílias doam cestas básicas para serem entregues à ONG Novo Rumo. “Comecei a ver que os ensaios eram como uma fuga da rotina das mães e crianças, repleta de médicos, fono, fisioterapia. Além disso, as fotos levantam a auto-estima delas”, reflete.

A lei federal 11.982 prevê, desde 2009, que parques de diversões, públicos e privados, devem adaptar, no mínimo, 5% de cada brinquedo e equipamento e identificá-lo para possibilitar sua utilização por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Em 2013, a Jaqueira recebeu brinquedos inclusivos em um trecho do parque.

Lívia aposta na prática do bem como forma de recebê-lo de volta. A equação parece dar certo. Lívia tem espondinite anquilosante, uma doença inflamatória crônica que acomete preferencialmente articulações da coluna vertebral. Além de sofrer com muitas dores, Lívia sabe que a doença não tem cura e, se não tratada, ela poderá ter limitação de movimentos e até invalidez.

“Percebi que meus problemas não são nada diante da rotina dessas mulheres. Muitas largam tudo para cuidar dos filhos”, reflete.

Um outro resultado do projeto Fonte de Luz é o encontro, neste domingo, das mães e crianças retratadas. Será no Parque da Jaqueira, a partir das 9h, e cada família levará um lanche e receberá seus ensaios fotográficos. A celebração é aberta a todas as pessoas interessadas em ampliar seu conhecimento sobre o tema ou confraternizar.