De origem humilde, Mariyappan Thangavelu vai usar premiação do governo da Índia para reconstruir sua vida e a da família

Ouro Paralímpico muda para a sempre a vida de jovem atleta indiano

Mariyappan Thangavelu e a bandeira da Índia após conquistar o ouro Paralímpico (Foto: OIS/Simon Bruty)

A vida do indiano Mariyappan Thangavelu jamais será a mesma depois da medalha de ouro Paralímpica que ele conquistou na noite de sexta-feira (9), na prova do salto em altura classe T42, no Estádio Olímpico (Engenhão). O prêmio de 7,5 milhões de rúpias (R$ 367,5 mil) promete mudar a rotina do humilde jovem de 21 anos, que somente no ano passado teve a oportunidade de dormir em uma cama pela primeira vez.

Entenda a classificação dos atletas Paralímpicos no Rio 2016

“Ele é extremamente pobre, e financeiramente essa medalha muda a vida dele para sempre”, disse Bhati Varun Singh, colega de equipe de Mariyappan e medalhista de bronze na mesma prova. “Estou muito orgulhoso dele”.

Confira o calendário e os resultados do atletismo no Rio 2016

O campeão Paralímpico cresceu no Estado de Tamil Nadu, na região sul da Índia. Lá, vive com a mãe e dois irmãos em uma casa menor do que o quarto que ocupa na Vila dos Atletas. “É fantástico, porque ele vem de um ambiente muito humilde e é muito jovem”, disse a chefe de missão da Índia S.S.Chhabra.

Mariyappan ja disse que vai amputar o pé direito quando parar de competir (Foto: OIS/Simon Bruty)

A premiação paga pelo Ministério do Esporte da Índia a medalhistas Paralímpicos é a mesma que cabe aos medalhistas Olímpicos. “Esse prêmio do governo permite que ele monte sua própria academia para promover o esporte”, afirmou Chhabra. “A vida dele mudou em um dia”.

Origem humilde

Quando criança, Mariyappan foi atingido por um ônibus que esmagou sua perna abaixo do joelho, deixando uma deficiência permanente. “Minha perna está atrofiada. É como a perna de uma criança de cinco anos, nunca vai se desenvolver ou se curar”, conta ele.

A mãe de Mariyappan teve que pedir um empréstimo para pagar o tratamento médico, e o jovem conta que, mais de uma década depois, a dívida ainda não foi totalmente paga. “Ainda estamos pagando. A vida é muito dura, mas de alguma forma estamos superando”.

Sam Grewe, dos EUA (esq.), Mariyappan e Bhati (Foto: Getty Images/Alexandre Loureiro)

O esporte sempre foi uma paixão de Mariyappan. Ele começou jogando voleibol, até que uma professora sugeriu o salto em altura. Aos 14 anos, o futuro atleta Paralímpico foi o segundo colocado em uma competição contra atletas sem deficiência.

“Eu nunca me vi como alguém diferente quando criança”, diz ele. “No começo, meus colegas não acreditavam que eu conseguiria, mas depois do meu primeiro salto eles ficaram empolgados. Daquele dia em diante, muitas pessoas começaram a torcer por mim onde quer que eu competisse”.

Torcida a favor

Como acontece em casa, Mariyappan contou com o apoio da torcida no Estádio Olímpico. Conforme a altura da barra aumentava e os adversários iam sendo eliminados, aumentava a empolgação dos brasileiros com o desempenho do pequeno indiano de 1,68, Ao fim, ele foi o único a saltar 1m89m, o que lhe valeu o ouro. O americano Sam Grewe levou a prata com 1,86m, mesma altura atingida por Bhati Varun Singh.

Embora seja agora um medalhista Paralímpico e tenha um bom dinheiro, Mariyappan diz desde antes dos Jogos que seu foco está também longe do esporte. “Quero encontrar um bom emprego e cuidar da minha mãe”, diz ele, que tem no currículo um diploma em Administração.

Quando encerrar a carreira de atleta, o jovem campeão já disse que pretende amputar o pé direito. Antes, porém, tem uma meta no horizonte: os Jogos Tóquio 2020. O técnico Satyanarayana, por sua vez, tem planos mais ambiciosos para o pupilo daqui a quatro anos: “Ele terá 25 anos, será hora de casar”.

Fonte: Rio 2016