por Paulo Fabião

 Foto: Reprodução/Facebook
A imagem está no formato retangular na horizontal. Nela contém o comediante Paulo Fabião sentado em sua cadeira de rodas, encostada em uma parede de cor laranja. Com um carregador de celular na boca que está ligado a uma tomada ao seu lado. Como se estivesse carregando as energias. Fim da descrição. Legenda: Paulo Fabião se formou em jornalismo e hoje é comediante

Paulo Fabião tem paralisia cerebral desde que nasceu, se formou em jornalismo e hoje atua como comediante, se apresentando nos palcos desse Brasil levando risos para o público.
 
Ele já foi personagem de uma das nossas edições contando a sua trajetória no humor. Além de seguir essa carreira nada formal, ele levanta a bandeira de que deficiência não é só superação. Veja o seu relato, talvez você se identifique!
 
“Eu não sou nem quero ser seu exemplo!
 
É curioso como grande parcela da sociedade, ao se depararem com pessoas com deficiência em situações normais do cotidiano, vão pensar ou até mesmo abordá-las com frases como: “Você é um grande exemplo de superação” ou “Pessoas como você inspiram a gente”. O que a olho nú parece um elogio, na verdade é um preconceito disfarçado, mesmo que involuntário.
 
Pessoas com deficiência ganham o status de “Exemplo” não por fazerem grandes feitos, mas simplesmente por levarem vida normal como qualquer pessoa e fazer o que todo mundo faz tipo: trabalhar, se divertir e namorar.
 
Ou seja, na cabeça das pessoas o natural seria que a pessoa com deficiência vivesse triste e reprimido em casa, sem fazer nem produzir nada, então qualquer coisa que não seja assim, é visto como extraordinário. Então quem nos rotula como “exemplo”, parte do princípio que o normal seria eu ser inferior a ela, o fato de eu ser igual, me faz “super”. Isso tem um nome: preconceito, ou pelo menos, pré-conceito.

 Foto: Reprodução/ Facebook
A imagem está no formato quadricular. Nela contém o punho do comediante Paulo Fabião mostrando sua tatuagem que é um desenho de uma cadeira de rodas com um tripé segurando um microfone na frente. Fim da descrição. Legenda: Uma das tatuagens de Paulo Fabião

É engraçado como esse estigma vem até quando eu estou fazendo algo que está longe de ser exemplar. Perdi as contas de quantas vezes eu estou bebendo em algum bar e alguém me diz: “Cara, você é foda! Podia estar em casa se lamentando e está aqui enchendo a cara, parabéns!” Eu sou “Exemplo” até bêbado, impressionante!
 
Abordagens assim são tão constantes, posso até dizer, diárias, que eu penso que pra sociedade atual, a pessoa com deficiência é uma espécie de ator pornô deserotizado, ou seja, alguém que tem como única função inspirá-las e mais nada. Pra você não interessa, quem e o que eu sou, o importante é que eu te sirvo de inspiração sem grande motivo.
 
Por mais incoerente que possa parecer, os maiores culpados dessa rotulação permanente e constante são as próprias pessoas com deficiência. Muitos realmente acreditam que são “exemplos de superação” por levarem vida normal apesar da sua condição física e vendem essa imagem para os outros.
 
Se queremos igualdade, temos que nos ver como igual. Se nos vemos como superiores estamos tão errados como quem nos vê como inferiores. Então o termo “Exemplo de superação” não deve sair nem da boca das outras pessoas e nem da nossa .
 
Eu não quero inspirar nada nem ninguém e nem minha função social é essa. E eu não quero ser igual a você, nem me acho igual a você, eu sou igual a você. Se eu sou igual, logo não sou exemplo nem inspiração pra você!”