por Renato D’avila

   Imagem Internet/ilustrativa.
Mulher deficiente visual em casa
Fazer a barba, combinar tons de roupas, ficar bonito diante do espelho e até preparar alimentos faz parte da vida das pessoas com deficiência visual. As adaptações e os sentidos para uma rotina sem segredos é o que apresentamos na construção de uma rotina diária em “Novo Olhar”.
 
Quando criança a pessoa com deficiência visual conta com ajuda dos pais para vestir-se, pentear os cabelos, arrumar as roupas e ficar em dia com os cuidados básicos necessários. Mas como fazer isso longe dos pais? Nesse momento entra em ação os outros órgãos do sentido para dar sentido à vida: a audição, tato, o olfato e o paladar, são as principais ferramentas utilizadas para as adaptações necessárias ao cumprimento de uma rotina de trabalho, lazer e estudo no cotidiano do deficiente visual.
 
O forno de micro-ondas é alternativa comum em casa, comida requentada e o seu cheiro é a forma de perceber quando ela está no ponto. Adaptações em botões com cola em relevo, ainda dão um jeitinho na falta de acessibilidade nos aparelhos domésticos e aí, entra o tato com todo seu poder para verificar o botão correto na hora de utilizá-los na cozinha.
 
Fazer a barba sem ferir o rosto, sem espelho e ainda assim deixa-la bem feita é outra tarefa em que usamos o poder do tato. Enquanto passamos o barbeador com uma mão, a outra verifica o trabalho executado, é uma espécie de varredura dos pelos e observação durante e após cada local em que a lâmina passa.
 
Combinação de roupas sem uso da visão também é algo possível, tons podem ser percebidos de acordo com arrumação estratégica no guarda roupa, textura do tecido da camisa, alguns símbolos em relevo nas calças e bermudas. Nesse caso, além do uso dos sentidos, precisamos ter uma organização impecável no nosso armário, para que as peças sejam grudadas com a combinação ideal. Os óculos escuros podem dar um toque a mais no visual, embora nem todo o deficiente precise ou goste de usar óculos escuros 24 horas por dia.
 
Nas tarefas de casa, lavar pratos, panelas e copos não existem regras. Apenas tomar cuidado com as facas, mas nada que a prática não possa nos ensinar. Recolher lixo, varrer o chão, podem até deixar falhas e não ficar tão perfeito, mas só vamos saber quando convidarmos visitas ou pessoas mais próximas que possam confirmar se realmente conseguimos fazer tudo correto. Para a pessoa cega ou com baixa visão, tudo pode ser feito da melhor forma possível, vai depender somente do desejo de cada um em cumprir suas tarefas da vida diária, deixar a preguiça de lado e utilizar os outros sentidos, que os resultados serão os mesmos.
 
Por meio do tom da voz do outro, conseguimos identificar alguns sentimentos como: tristeza, raiva e até mesmo se este fala a verdade em alguns momentos. Não é querendo dizer que o deficiente visual adivinha os sentimentos alheios, mas desenvolvemos com o passar do tempo uma sensibilidade que nos capacita para tal. O silêncio já é um velho truque conhecido na hora de responder algo, isso nos diz muito do outro. Até quando alguém nos toca de alguma forma, percebemos se o outro demostra alguns sentimentos bons ou ruins. Assim seguimos dando sentido à vida, com os sentidos que temos.
 

Fonte: g1.globo.com – Imagem Internet/ilustrativa.