Phillipy e Thainara, assim como Gabriel e Nathalia se conheceram em Cabo Frio, RJ, e vivem cada dia como se fosse o Dia dos Namorados.
 
Por Paulo Henrique Cardoso, G1, Cabo Frio
 
Phillipy e Thainara, e Gabriel e Nathalia, são Down e se conheceram em Cabo Frio (Foto: Paulo Henrique Cardoso/G1)
Phillipy e Thainara, e Gabriel e Nathalia, são Down e se conheceram em Cabo Frio (Foto: Paulo Henrique Cardoso/G1)
 
Casais apaixonados, que gostam de cinema, de ir à praia e de sair para jantar: tanto Phillipy e Thainara, quanto Gabriel e Nathalia, compartilham do mesmo sonho: casar e morar juntos. Autodenominados “casais especiais”, eles têm Síndrome de Down. Nesta segunda-feira (12), Dia dos Namorados, o G1 conta a história dos casais que se conheceram em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio.
 
Eles passam por cima de barreiras, que até anos atrás eram intransponíveis, para viver a vida de forma intensa e fascinada. Na rotina diária, conversas pelo WhatsApp; nos dias em que se veem, não se desgrudam: tanto que Phillipy e Thainara fazem questão de andar de mãos dadas, enquanto Gabriel e Nathalia trocam cócegas e risadas o tempo todo.
 
Phillipy Santos e Thainara Dutra
Os namorados de 21 anos se conheceram quando pequenos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Cabo Frio. Ainda criança, ele se mudou para São Gonçalo, a cerca de 120 Km de Cabo Frio, onde ela ainda mora, mas a amizade dos pais os mantinha em contato, seja quando Phillipy passava o fim de semana na Região dos Lagos, ou quando Thainara ia a São Gonçalo visitar amigos.
 
Phillipy e Thainara gostam de ir ao cinema e lanchar juntos (Foto: Paulo Henrique Cardoso/G1)
Phillipy e Thainara gostam de ir ao cinema e lanchar juntos (Foto: Paulo Henrique Cardoso/G1)
 
Os dois cresceram cercados de apoio por parte da família, e, junto com o crescimento físico, se desenvolveu um sentimento diferente da amizade, que pode ser visto na maneira como um olha para o outro. Até que no fim de 2016, Phillipy decidiu tomar uma atitude.
 
“Eu falei com meus pais e depois pedi para o pai dela se ele deixava a gente namorar. Não fiquei nervoso porque sabia que ele ia deixar. Aí depois perguntei para ela, e ela disse ‘sim’. Já sabia que gostava dela desde pequeno. Só esperei a gente crescer porque eu sinto amor por ela”, diz Phillipy ao segurar firme na mão da namorada, que responde de bate-pronto: “Eu amo ele, gosto muito do cabelo e do sorriso dele”.
 
O programa preferido do casal é ir ao cinema e comer pipoca e chocolate. Mas o que eles fazem com mais frequência é brincar de escola: Thainara “é a professora chata”, segundo o próprio namorado, que ensina “a somar, subtrair, e quando ele erra, ensino de novo, mas sem muita paciência”, de acordo com a própria.
 
Para o futuro, Thainara sonha em ser “atriz, cantora e modelo para ajudar minha mãe”, enquanto Phillipy é mais modesto: sonha em ser cozinheiro. Mas o que querem mesmo é morar juntos.
 
“Meu sonho é casar na praia, e queremos ter nossa casinha”, diz Thainara.
 
Gabriel Costa e Nathalia Silva
 
Em meio a constantes cócegas que Gabriel, de 20 anos, faz em Thainara, de 28, e sorrisos um para o outro, se desenvolve o amor de quem se conheceu na aula de dança da Apae de Cabo Frio. Eles namoram desde 2012 quando Gabriel, que “achava ela uma gatinha”, resolveu fazer o pedido à garota que parece não ter percebido o tempo de relacionamento passar. “Eu ainda acho ele um gatinho”, brinca Nathalia.
 
Gabriel e Nathalia são pura alegria juntos (Foto: Paulo Henrique Cardoso/G1)
Gabriel e Nathalia são pura alegria juntos (Foto: Paulo Henrique Cardoso/G1)
 
Os dois colecionam momentos marcantes no circo, no cinema e na praia, já que moram próximos; ele em São Pedro da Aldeia, e ela em Cabo Frio. Apesar de já terem namorado antes com outras pessoas, eles se apaixonaram mesmo um pelo outro ao dançar “Como é grande o meu amor por você”, de Roberto Carlos, em uma apresentação na Apae.
 
A partir daí foi sintonia pura, e a afinação é tanta que os dois até falam de maneira parecida para descrever o que sentem um pelo outro: ambos amam “muito, muito, muito, muito, muito”.
 
Ele sonha em trabalhar em uma rede de fast food, enquanto ela sonha em fazer faculdade e ser advogada para poder cuidar do Gabriel Junior, nome já definido em consenso do único filho que o casal deseja ter, quando tiverem “a casinha própria só para a gente”, nas palavras de Nathalia.
 
Sobre serem diferentes das outras pessoas, Gabriel é categórico. “Ser diferente é o que faz a gente ser especial. Todo mundo que a gente conhece gosta da gente, todo mundo sorri para a gente”.
 
O suporte da família é essencial na relação dos dois: para a mãe de Gabriel, apesar de ainda faltar muito para se avançar, a Síndrome de Down é vista com olhos mais compreensivos atualmente.
 
“A gente passou muito tempo deixando nossos filhos dentro de casa. Antigamente, se ficava dentro de casa com a criança Down. Hoje tudo mudou muito, apesar de ainda precisar mudar bastante. Nossos filhos hoje vão para a rua sem problema, fazem tudo o que têm que fazer. São parte da sociedade mesmo”, diz Tatiane de Souza, mãe do Gabriel.
 
Fonte: g1.globo.com