RECEBEMOS UM RELATO INTERESSANTE DE UMA MENINA CHAMADA DORCAS (NOME FICTÍCIO) E RESOLVEMOS COMPARTILHAR AQUI, LEIA ABAIXO
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Tenho 22 anos, moro no interior de Minas Gerais e sou estudante de uma das melhores universidades federais do país (tenho certeza que por essa você não esperava). Quem passa por mim na rua, trabalha ou estuda comigo, nunca imaginaria esse fato sobre mim. Minhas primeiras memórias sobre isso têm início quando eu tinha por volta de cinco anos. Naquela época, tinha um rapaz com pólio que trabalhava em uma feira de artesanatos na minha cidade natal. Ele era o cara mais cool que eu conhecia, cabelo grande, vestia sempre camisas de banda de rock, ele sempre me chamava muito a atenção.
Após essa época, minhas próximas memórias são de quando eu tinha por volta de 12 anos. Assistia uma novela que tinha um personagem paraplégico. Na trama, ele se apaixonava pela filha do chefe dele, e ela por ele, mas no início, ela tinha medo de se envolver por ele por ele ser cadeirante. Eu desejava estar em uma situação semelhante a dela, porque eu nunca hesitaria. Enquanto minhas amigas estavam apaixonadas pelo vampiro do Crepúsculo, eu estava apaixonada pelo personagem cadeirante da novela (e claro, pelo vampiro também, era uma garota de 12 anos QUASE como todas as outras).
Perceber essa atração, trouxe um sentimento de angústia. Quando se é adolescente, ninguém quer se sentir diferente. Por mais que não tivesse feito nada errado, sabia que não poderia falar disso com minhas amigas, e que elas não eram como eu. Foi então que por meio de pesquisas na internet, descobri o termo devotee. Naquele momento, isso foi um alívio. Foi importante para mim saber que não era única, que tinha um nome para o que eu sentia, até aquele momento, acreditava ser a pessoa mais estranha e inadequada do mundo.
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O alívio não durou muito, tudo o que existia na internet tratando desse tema era negativo. Termos como “perseguidores”, “anonimato”, “perigosos” são comuns. Eu não me identificava com isso e eu não queria ser assim. Existe um sentimento frequente por parte das pessoas com deficiência sobre os devotees “Como alguém ousa se sentir atraído por algo em mim que me trouxe tanto sofrimento?” Eu não ouso, eu não tenho opção, não tenho controle pelo que eu sinto, o que posso fazer e faço, é não fazer nada sobre essa atração. Nunca fiquei com um cadeirante e não o farei. A única vez em que conversei com um foi em um fórum de devotees e ele sabia quem eu era.
Para algumas pessoas, o devoteísmo se torna uma necessidade. Já li relatos de pessoas que só conseguem estar em uma relação com uma pessoa com deficiência. Não é o meu caso, tenho relacionamentos com pessoas sem deficiência, mesmo que minha preferência não seja essa. Não entendo como tudo isso funciona, as pessoas reagem a isso de maneiras diferentes, têm preferências distintas. Gostaria de saber mais sobre, talvez no futuro tenhamos mais respostas sobre tudo isso.
NOTA DO AUTOR:
Muito obrigado pelo relato Dorcas, muito bom tentar desmitificar isso, algo tão comum como a atração, tem que ser normal/natural poder sentir desejo por um deficiente, claro respeitando os limites e anseios de cada um, acredito que você tem sim que experimentar, conhecer algum deficiente e ver como irá lidar com isso, nós fazemos sexo sim (e muito bem obrigado) , seja amor ou sexo/fetiches, todo nós temos os nossos e é importante falar sobre, mostrar a sociedade que podemos atrair, ter uma vida sexual ativa, longe de todo capacitismo e a idéia que deficientes são assexuados.
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