Isadora de Morais, de 14 anos, recebeu alta após quase dois meses internada em Goiânia. Tiros causaram a morte de dois colegas e deixaram, além dela, outros três feridos.
 
Por Paula Resende, G1 GO
 
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Estudante baleada por colega em escola recebe alta de hospital de Goiânia
 
A estudante Isadora de Morais, de 14 anos, que ficou paraplégica após ser baleada por um colega dentro do Colégio Goyases, contou que o atirador disse a ela que não tinha a intenção de machucá-la. A declaração foi dada nesta quinta-feira (14), um dia após adolescente receber alta de um hospital de Goiânia.
 
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“Eu me lembro de tudo, mas o que fica marcado mesmo é o momento em que eu fui atingida e ele falou pra mim que não era para ter me atingido, e eu rastejando, não estava sentindo as pernas. Pedia socorro, ninguém vinha”, contou Isadora.
 
Os tiros disparados pelo colega de 14 anos causaram as mortes de João Pedro Calembo e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos, e deixaram Isadora e mais três alunos feridos no dia 20 de outubro. Filho de um casal de policiais militares, o atirador foi apreendido após o ato e está em um centro de internação para menores infratores.
 
De acordo com a estudante, ela viu quando João Vitor foi baleado. Porém, só soube da morte de João Pedro quando estava no hospital.
 
” O João Pedro era um dos meus melhores amigos. Fiquei muito triste, teve um dia que passou a reportagem, eu chorei muito, e meu pai teve de desligar a televisão porque eu podia passar mal”, relatou a adolescente.
 
Isadora conta que não era próxima do atirador. Ela não compreende o motivo de ele ter atirado contra a turma.
 
“Eu tento entender o motivo, mas não consigo. Tenho muita vontade de saber. São muitas perguntas sem resposta”, lamenta.
 
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Alta médica
Isadora ficou 54 dias internada. Inicialmente, ela foi levada ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e, desde 9 de novembro, estava no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer).
 
Ao deixar o hospital na tarde de terça-feira (13), a  estudante foi surpreendida pelo ídolo, o cantor Israel Novaes. O sertanejo a recebeu cantando e fez uma homenagem para a fã. “Fico feliz de poder estar aqui. A música pode proporcionar alegria e superação. A própria Isadora representa superação e felicidade e mostra que a felicidade depende de coisas bem simples”, disse.
 
Isadora de Morais recebeu uma festa surpresa ao chegar em casa após receber alta médica (Foto: Lorena Pereira/Arquivo pessoal)
Isadora de Morais recebeu uma festa surpresa ao chegar em casa após receber alta médica (Foto: Lorena Pereira/Arquivo pessoal)
 
O diretor geral do Crer, Valmy Luís da Rocha, explicou que a paciente se recuperou no tempo previsto pela equipe médica. Ela já consegue sair da cama e manusear a cadeira sozinha, mas continuará indo ao Crer três vezes por semana.
 
“Vamos trabalhar para que ela tenha uma vida independente. Ela vai continuar fazendo fisioterapia, fisioterapia ocupacional e acompanhamento psicológico, que é muito importante. A proposta é que continue por um ano, mas vamos reavaliando a cada três meses, podemos mudar a frequência e o tipo de atendimento”, explicou.
 
Isadora se mostrou animada com a saída do hospital e contou que se sente mais forte depois de tudo o que passou. “A gente nunca pode perder o sorriso. Eu sempre fui assim e vou continuar sendo. Essa experiência me amadureceu muito. Temos que amar mais as pessoas e não deixar nada nos abalar. Não podemos perder a felicidade, a fé a esperança”, afirmou.
 
 
Estudante que atirou contra a turma está em um centro de internação (Foto: Vitor Santana/ G1)
Estudante que atirou contra a turma está em um centro de internação (Foto: Vitor Santana/ G1)
 
Após sair do hospital, Isadora ainda ganhou uma festa surpresa Prima da adolescente, a estudante Lorena Pereira dos Santos, de 22 anos, contou que todos se juntaram para limpar a casa e decorar tudo para a chegada da estudante.
 
“Veio muita gente e ela adorou. [Ela] Não sabe para quem dá atenção primeiro. Para nós é maravilhoso ver ela voltando para casa, ver a alegria dela, que sempre foi muito sorridente. Vê-la é muito bom. O pessoal está muito animado. A casa ficou pequena para todo mundo que veio”, disse em entrevista ao G1.
 
Investigação
 
A Polícia Civil foi ao Crer ouvir a aluna. O delegado responsável pelo caso, Luiz Gonzaga Júnior, disse que este era o último depoimento pendente e só aguarda um laudo de local de morte violenta para concluir a investigação.
 
Mesmo assim, o delegado explicou que já remeteu o auto de investigação à Justiça e que não tem mais dúvidas sobre o que aconteceu. “Já está concluso o procedimento, falta só a juntada do laudo. Mas quando à dinâmica dos fatos, a motivação e demais esclarecimentos já foram apresentados na investigação”, explicou.
 
João Pedro Calembo (à esquerda) e João Vitor Gomes foram mortos a tiros por colega (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
João Pedro Calembo (à esquerda) e João Vitor Gomes foram mortos a tiros por colega (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
 
O atirador levou a pistola .40 da mãe para a escola. No intervalo entre duas aulas, ele sacou a arma e atirou contra os colegas. A coordenadora da unidade, Simone Maulaz Elteto, foi quem convenceu o aluno a parar de atirar.
 
Segundo o delegado, o autor dos tiros disse que  sofria bullying de um colega e, inspirado em massacres como o de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro, decidiu cometer o crime. O menor foi apreendido logo após os tiros.
 
Menor apreendido
 
O Juizado da Infância e Juventude de Goiânia, decidiu, no dia 28 de novembro,  manter o adolescente internado. A sentença cita que ação foi “premeditada” e “impossibilitou por completo qualquer defesa” dos baleados.
 
De acordo com a advogada de defesa da família do adolescente, Rosângela Magalhães, o estudante pode ficar até três anos internado, sendo reavaliado a cada seis meses. Na ocasião, ela afirmou que não vai recorrer da decisão e pontuou que o menino deve voltar a estudar.
 

Fonte: g1.globo.com