Aluno do Piauí ficou paraplégico após ser baleado há quatro anos
 
Por Jairo Marques
 
Imagem Karime Xavier/Folharess
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O estudante de medicina da UFPI (Universidade Federal do Piauí) Leandro Silva de Sousa, 21, que assistia às aulas do curso de bruços, deitado em uma maca, recuperou-se da lesão que o impedia de sentar na cadeira de rodas e está, a convite do governo de São Paulo, fazendo reabilitação na Rede Lucy Montoro, no Morumbi, zona oeste. Era um sonho dele desde que ficou paraplégico ao levar cinco tiros tentando apartar uma briga, há quatro anos.
 
Leandro foi submetido a uma cirurgia plástica, há três meses, logo depois de a Folha ter revelado sua história, o que conseguiu tapar uma úlcera de pressão –ferida que pode comprometer profundamente a parte afetada se não for bem tratada– ​​na região das nádegas.
 
Agora, o estudante consegue se sentar, mas ainda prefere acompanhar as disciplinas teóricas do curso —ele acabou de passar para o terceiro semestre— em uma maca portátil, enfrentando diversos desafios de acessibilidade. Ele chegou a entrar em laboratórios e usar o microscópio, com uma adaptação improvisada, deitado na maca.
 
“Agora fico a maior parte do tempo na cadeira de rodas, mas ainda é um desafio ir de um lugar para outro no campus porque não existem condições de acessibilidade. Perto das salas de aula da medicina, por exemplo, não consigo entrar em nenhum dos banheiros”, afirma.
 
Após ter sido baleado e sofrer uma lesão medular, o jovem não teve orientação básica para encaminhar a vida em uma nova condição física. Ele tem dificuldades de tocar a cadeira de rodas e ter desenvoltura com ela, assim como não sabia toda técnica de lidar com suas funções fisiológicas, que foram alteradas, por essa razão, ele queria vir a São Paulo.
 
Desde o início de julho, Leandro está passando por uma reabilitação intensiva na Rede Lucy, ligada à Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Ele ficará quatro semanas em tratamentos, treinamentos e preparos para ter condições de levar uma vida mais autônoma. No final do ano, ele retorna para uma reavaliação.
 
“Nosso objetivo é preparar o Leandro para que ele consiga estar bem capacitado para lidar com desafios que são próprios do estudante de medicina e do médico. Vamos dar ele suporte emocional, técnico e instrumentos para que ele vá criando seus próprios caminhos de adaptação na profissão”, diz o fisiatra Daniel Rubio, que acompanha o estudante.
 
O médico afirma que em disciplinas que se passam em centros cirúrgicos, por exemplo, será necessário pensar em como fazer o processo de assepsia da cadeira de rodas. Para ficar na altura do paciente na mesa de cirurgia, Leandro já tem uma solução.
 
Com apoio de uma campanha coletiva, que arrecadou R$ 24 mil, ele vai comprar uma cadeira especial, que deixa o usuário em pé e se locomove eletronicamente. Parte do dinheiro ele usou para pagar as passagens aéreas para São Paulo.
 
Imagem Adriano Vizoni/Folhapress
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O jovem mora com a mãe em uma quitinete, próxima ao campus onde estuda. O pai é caminhoneiro, sustenta a família com cerca de R$ 1.400 por mês. Até dois meses atrás, ele tinha despesas com uma ambulância que o levava de maca à universidade, o que não é mais necessário. A UFPI dá uma bolsa de assistência a ele.
 
“O Leandro é muito aplicado, focado nas orientações que passamos e está se desenvolvendo muito rápido. Nossa expectativa é que ele tenha uma vida normal, como usuário de cadeira de rodas. Ele ainda tem medo de ficar muito tempo sentado, com receio de uma reincidência da úlcera, mas ele está muito bem”, afirma o médico.
 
Leandro ainda tem uma bala alojada entre as vértebras, mas o doutor Daniel Rubio avalia que não será necessário retirá-la, embora o estudante ainda tenha de passar por outras avaliações. O entendimento é diferente do que foi passado ao estudante anteriormente, no Piauí.
 
“A bala não me parece representar nenhum risco e, pelo tempo que já se passou, ela criou uma espécie de invólucro, não se movimenta, não prejudica outros órgãos e não irá afetar em nada a vida dele”.
 
O estudante, que é apaixonado por esportes, pretende entrar em um time de basquete em cadeira de rodas. “Estou feliz. Muita coisa boa aconteceu após a reportagem sair, por exemplo, vir para São Paulo e receber esse tipo de assistência que estou tendo. Quero ser médico para fazer o bem a outras pessoas”, declara Leandro.
 
Como parte do programa de reabilitação, que é totalmente gratuito, o estudante sairá de São Paulo com uma cadeira de rodas manual, feita de acordo com suas medidas e necessidades, com acolchoamento especial para evitar formação de feridas.
 
Em nota, a UFPI informou “está em construção a primeira ciclovia” do campus de Teresina, que terá 1,1 km e “inclui a construção de mais rampas de acesso, faixa de circulação para deficientes físicos e pedestres, a instalação de piso tátil para auxiliar o deslocamento de cegos e pessoas com deficiência visual”.
 
Segundo a universidade, o projeto de acessibilidade é orçado em R$ 1,4 milhão e é realizado com recursos próprios. A instituição não se manifestou sobre a falta de banheiros inclusivos.​