A startup campineira CBD Vida será a primeira empresa com sede administrativa no Brasil a comercializar medicamentos à base de canabidiol (CBD)
Por Daniel de Camargo
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CBD Vida será a primeira com sede no Brasil a comercializar medicamentos à base de canabidiol
A startup campineira CBD Vida será a primeira empresa com sede administrativa no Brasil a comercializar medicamentos à base de canabidiol (CBD) — extrato natural da cannabis sativa — com importação direta mediante receita e laudo médico. O mercado nacional de CBD deve movimentar U$ 4,7 bilhões, ou seja, em torno de R$ 17 bilhões nos próximos três anos, segundo pesquisadores da BDS Analytics e Arcview Market Research.
Atualmente, 6.530 pessoas estão autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autarquia vinculada ao Ministério da Saúde, a importar esse tipo de remédio. Um estudo da consultoria NewFrontier aponta, entretanto, que o número potencial de brasileiros que podem se beneficiar é muito maior. No momento, seriam cerca de 833 mil pacientes, dos quais aproximadamente 234 mil sofrem com dores crônicas. Para os próximos 36 meses, o número total deve crescer em torno de 305%, atingindo perto de 3,4 milhões de enfermos.
As vendas dos produtos (http://cbdvida.com/produtos/) da marca binacional serão realizadas a partir de agosto. A sede operacional da companhia fica em Ottawa, capital do Canadá, e alguns produtos são feitos na província de Quebecc. Serão comercializados medicamentos com os extratos da planta Cannabis sativa, usados para o tratamento de diversas patologias, como câncer, epilepsia, fibromialgia e transtornos de ansiedade, por exemplo.
Segundo o diretor executivo da CBD Vida, Fabio Camata Candello, Campinas não foi escolhida como sede à toa ou pelo simples fato de que seus gestores nasceram ou residem no município. “A cidade é um polo de conhecimento e tecnologia que abriga, entre outros, a Universidade Estadual de Campinas”, disse. “Além disso, está próxima (a cerca de 100 km de distância) da capital econômica do Brasil, São Paulo, e conta com bons modais de transporte: ferroviário, rodoviário e aéreo por meio do Aeroporto Internacional de Viracopos”, completou Candello.
Os principais diferenciais da empresa frente à concorrência são os valores mais acessíveis, produtos eficientes e prazo de entrega mais curto. O portfólio da startup campineira tem três medicamentos — um deles um gel para dores articulares. O executivo afirma que após uma pesquisa sólida de mercado, foram estabelecidos valores, em média, US$ 50 mais baratos para cada produto. Isso, considerando que cada paciente, dependendo da idade, peso e patologia, deve consumir até três frascos por mês, resultando em despesas geralmente superiores a R$ 1 mil.
Pensando na eficácia, foi empregada nanotecnologia na formulação dos remédios. Essa manipulação garante aos produtos 18 vezes mais absorção pelo organismo em comparação aos demais. O prazo de entrega é de aproximadamente oito dias. “A facilidade nesse processo é assegurada por uma parceria firmada com a SinerlogUSA, empresa de logística integrada a um serviço brasileiro dos Correios”, afirma o diretor financeiro Eduardo Berenguel. “Mantemos o que chamamos de armazém alfandegado no aeroporto de Miami. Lá temos um estoque dos nossos produtos”, esclarece.
Justiça
Em 2014, o juiz Bruno César Bandeira Apolinário, da 3ª Vara Federal de Brasília, autorizou pela primeira vez uma família a importar óleo rico em Canabidiol para o tratamento de uma criança, na época com 5 anos, que sofria de epilepsia refratária.
O magistrado defendia que liberar o uso do remédio derivado da maconha para esse caso, em específico, preservava o direito fundamental à saúde e à vida. Na oportunidade, Apolinário defendeu que estudos já mostravam que o CBD não tinha efeitos entorpecentes.
A partir dessa jurisprudência, os pedidos aumentaram drasticamente até que em 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou em 6 de maio a Resolução RDC nº 17. A norma definiu critérios e procedimentos para a importação de produtos à base de Canabidiol em associação com outros canabinóides, por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição médica.
“A Anvisa liberou o registro. Ela não se responsabiliza pelos efeitos benéficos ou colaterais, caso ocorram, mas permite a compra no Exterior (a produção, manipulação e estocagem no Brasil não foram liberadas). A partir desse marco regulatório, os conselhos médicos (nacional e estaduais) autorizaram seus membros a prescrever esses medicamentos”, disse o diretor executivo da CBD Vida, Fabio Candello.
O executivo ressalta que a maioria dos brasileiros ainda está atrasada culturalmente no que diz respeito à compreensão da Cannabis medicinal. O executivo enfatiza que há diferenças consideráveis entre o uso para tratamentos e o recreativo. “A parte que utilizamos da planta é a masculina, onde o THC (tetra-hidrocarbinol — principal componente da maconha) é praticamente zero”, afirmou.
Público-alvo de tratamento é diversificado
O público-alvo da CBD Vida, segundo seu diretor executivo Fabio Camata Candello, é formado por pacientes com doenças de fundo neurológicos, psiquiátricos e com dores crônicas, independentemente da idade.
“Os remédios podem ser utilizados desde crianças a partir de dois anos até um idoso com Alzheimer (patologia neurodegenerativa e a forma mais comum de demência, que se manifesta lentamente e vai-se agravando ao longo do tempo. O sintoma inicial mais comum é a perda de memória a curto prazo)”, disse.
De acordo com o gestor, o foco da empresa é humanitário e também social, pois a maioria dessas doenças, que incluem o câncer, é muito grave e não tem sido atendida pelos medicamentos tradicionais que estão à disposição no mercado.
Diretor financeiro da CBD Vida, Eduardo Berenguel destaca que é pai e recentemente se deparou com um caso chocante e que valida a utilização do CBD. “Uma criança com epilepsia tinha cerca de 60 ataques por dia. Depois que passou a se medicar com CBD, esse número caiu para dois ataques por dia”, comentou.
“Estamos num momento em que o uso medicinal da Cannabis não tem volta: as discussões podem desacelerar, mas não retroceder. A classe médica, Anvisa e Judiciário sabem que o emprego da planta é favorável no tratamento de várias patologias”, acrescentou Candello.
Fonte: correio.rac.com.br