Sala de aula improvisada - Foto: Pedro Martins/G1

Sala de aula improvisada – Foto: Pedro Martins/G1

Um casal cadeirante de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, prova que cada um tem suas ferramentas para ajudar e melhorar a vida dos outros, mesmo que haja limitações físicas.

No caso da telefonista Sônia Soranzo, de 60 anos, e do vendedor aposentado Jeferson Andrade, de 55, eles ensinam português e matemática de graça para crianças em fase de alfabetização.

As aulas de reforço escolar gratuitas são improvisadas na garagem da casa dos dois para meninos e meninas com dificuldade de aprendizagem.

“A gente levanta a autoestima e mostra que eles são capazes. Começamos pelo básico: ensinamos a ler, escrever e a pensar…Tem criança que chegou aqui sem saber ler e escrever, mas hoje está em uma faculdade”, disse Sônia ao G1.

História

Ela teve paralisia infantil e, aos 16 anos, precisou trocar as muletas por uma cadeira de rodas devido a uma cirurgia malsucedida na coluna.

Com a mesma idade, Jeferson perdeu os movimentos das pernas após uma meningite grave.

Sônia e Jeferson se conheceram há quase 30 anos em um jogo de basquete para cadeirantes e se apaixonaram e batalharam juntos para vencer.

Antes de se aposentar, Jeferson vendeu doces no semáforo, enquanto Sônia trabalhava como telefonista.

Na folga, eles ainda juntavam latinhas para ter uma renda extra e, pouco a pouco, conseguir levantar as paredes de casa.

Quando terminaram a construção, eles sentiram falta de um compromisso que os mantivessem motivados no dia a dia. Foi quando surgiu a ideia de oferecer as aulas de reforço escolar.

Escola improvisada

Tudo começou quando chegou o primeiro aluno.

“Bateu uma criança na minha porta, pedindo para eu ajudar com reforço escolar, que os pais iam me pagar”, relembra Sônia.

O casal aceitou o pedido, mas dispensou o dinheiro e decidiu chamar outras crianças para participar das aulas.

Em pouco tempo, a sala estava cheia.

O projeto, batizado de Suave Caminho, atende cerca de 20 crianças com idade entre cinco e 12 anos, divididas entre duas turmas.

Lá elas aprendem a ler, a escrever e a fazer operações matemáticas básicas, como soma, subtração, multiplicação e divisão.

Respeito

Além do português e da matemática, as crianças aprendem a respeitar as diferenças de cada colega, para conviverem de maneira harmoniosa.

“A essência daqui é o amor. É o ser, e não o ter. Ser amado, ser querido, ser respeitado, ser família.”

Outro aprendizado constante do projeto Suave Caminho é a importância de não desistir dos sonhos.

“A maior lição não está na lousa. Está na minha cadeira e na do Jeferson, porque eles veem que o impossível é possível. Basta querer”, afirma Sônia.

“A pior deficiência é a preguiça, porque não tem nada que resolva. Não saber não é um problema. Não querer aprender é”, concluiu.

Sônia, Jeferson e os alunos - Foto: Pedro Martins/G1

Sônia, Jeferson e os alunos – Foto: Pedro Martins/G1

Com informações do G1