O endereço de localização parece mais um código incompreensível. Mas no boca a boca se chega até o ateliê de Edwim Huasacca, o artesão que vive em uma viela no distrito de Chorrillos, próximo de Lima, junto com sua família. De lá saem peças maravilhosas típicas do Peru que ele envia para exportação a países como Estados Unidos, Alemanha, Itália e Espanha.
Mas tem um objeto que não é vendido: o cuchimilco, estatueta que está nas maõs dos medalhistas dos Jogos Pan-Americanos. A negociação é proibida por contrato de exclusividade com o Comitê Organizador do Pan. E até por isso tem encantado ainda mais os competidores. Dá para se dizer que ficam mais impressionados do que com as medalhas que carregam.
“A satisfação é ver esse troféu na mão de todos os atletas. É algo maior que qualquer dinheiro que eu tenha recebido por esse trabalho. Fico muito feliz em saber que os atletas estão gostando, é um orgulho para mim”, disse ao Estado o senhor de 42 anos, que não consegue estimar um preço caso fosse vender a peça: “É incalculável.”
A nadadora brasileira Etiene Medeiros ganhou o seu cuchimilco após a prata no revezamento 4 x 100m livre. E era só elogios. “Eu adoro artesanato e já comprei algumas coisas peruanas desde que cheguei a Lima. Gostei bastante disso e vou pesquisar para saber mais. Gosto muito dessas coisas”, contou.
E foi essa figura simpática que originou a mascote dos Jogos Pan-Americanos, o Milco. Desde pequeno Edwin Huasacca trabalha com artesanato por influência do pai ceramista. Então ele decidiu entrar no concurso para desenvolver o objeto que serviria de prêmio aos atletas e ganhou a concorrência.
“A primeira versão eu fiz à mão, desenhada especialmente para o Pan. Então a partir dela criei um molde, que serviu de base para todos os 5.930 cuchimilcos que fizemos para os Jogos. Usamos a argila vermelha, depois colocamos no forno e no final pintamos e decoramos com pincéis especiais que criamos”, revelou.
Para fazer essa quantidade tão grande, ele contou com o trabalho de uma equipe de 28 a 36 pessoas, que se revezavam em 18 horas de trabalho por dia. “As cores foram escolhidas pela Comitê Organizador. Em 40 dias conseguimos produzir todas as unidades. Isso é motivo de orgulho para mim, meus filhos, minha esposa, minha família e todos que ajudaram.”
Após o dever cumprido, Huasacca guarda algumas unidades em sua oficina para deixar como amostra para quem visita o local. Ele aprendeu o ofício com o pai, segundo ele um ceramista ao estilo antigo. Na viela vivem ainda outros quatro irmãos que fazem o mesmo tipo de trabalho artesanal.
“Nos dá muito orgulho ver esse nosso trabalho na mão dos esportistas”, afirmou. Ele só avisa aos atletas para terem muito cuidado com seus cuchimilcos porque a peça, oca por dentro, vai quebrar se sofrer uma queda. Mas ele garante que, bem cuidada, vai durar por muitos anos. Até mais que as medalhas, que se desgastam com o tempo.
Source: Saiba como é feito o Cuchimilco, objeto de desejo dos atletas no Pan de Lima – Esportes – Estadão