Foto: Lanceiros negros que lutaram na Revolução Farroupilha — Foto: Internet/Reprodução

Hoje (20) é Dia do Gaúcho, dia que se comemora a revolta chamada de “Revolução Farroupilha”. Este foi um dos diversos conflitos registrados na Província de São Pedro Grande no século 19, tem um papel de inegável importância na identidade política gaúcha e brasileira. Durante 10 anos (1835–1845) ela foi uma das mais desgastantes rebeliões contra o império brasileiro.

A revolta ou revolução, como queiram, foi capitaneada entre outros por Bento Gonçalves da Silva, David Canabarro, Antonio de Souza Netto, Domingos José de Almeida, Giuseppe Garibaldi, José Mariano de Mattos, Afonso Corte Real, José Gomes Vasconcelos Jardim, Onofre Pires, Joaquim Teixeira Nunes, Antônio Vicente da Fontoura e Bento Manuel Ribeiro. Que são tidos até hoje como heróis na província gaúcha.

Mas é importante destacar aqui que em nada a pseudo Revolução Farroupilha tinha de revolta popular, mas sim foi instaurada por fazendeiros e militares insatisfeitos com o Império e com as altas taxas sobre o charque, principal ativo econômico da época.

Para isso, estes fazendeiros que pediam “liberdade” sem ser abolicionistas, já que usaram seus escravos para ir a batalha, por conta disso, surgiu o nome farrapos já que os “guerreiros” vestiam roupas rasgadas e trapos. A expressão farrapo surge justamente disto, visto que eram roupas velhas, e viraram motivos de piada por parte do exército imperial.

E este é o ponto central deste texto. Há nesta história muita mentira, racismo e capacitismo: Os lanceiros negros linha de frente na batalha foram colocados em segundo plano na história, os heróis são brancos e de “sangue europeu”.

Além disso, diversos desses negros foram vítimas da mentira dos fazendeiros que lhes prometeram liberdade e posses, mas que após a guerra nada disso veio, sem falar das inúmeras mortes e mutilações o que deixou eles com diversos tipos de deficiências físicas, o que também foi apagado da história.

Fato é que a pseudo-revolução foi apenas uma revolta de interesses financeiros dos fazendeiros preocupados com o lucro do charque.

Para quem quiser conhecer mais sobre essa história deixo aqui duas sugestões: O livro “História Geral da Infâmia” de Juremir Machado da Silva, o filme “Neto Perde sua Alma” onde há diálogos que mostram negros mutilados e abandonados a própria sorte, já que a promessa de liberdade e um pedaço de terra não foi cumprida.

O fato é que não dá para celebrar a “Revolução Farroupilha” como uma luta por liberdade, igualdade e humanidade, e desconsiderar todo o racismo, capacitismo e capitalismo escondido no processo.

Não dá para ter orgulho de ser gaúcho com uma história de exclusão e nem com um hino racista que diz “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.. E fica a reflexão: Quem mesmo eram os escravos?

A verdadeira revolução só vai acontecer quando desconstruirmos o mito farroupilha e admitirmos todas as exclusões que ele causou e ainda causa.

Feliz dia do Gaúcho.