Parece até um questionamento óbvio, bobo, ingênuo, mas é necessário. Principalmente pelo fato de que boa parte da sociedade ainda nos vê como improdutivos, incapazes ou mesmo inúteis para funções laborais.
E mais que uma fonte de renda, o trabalho em nossa configuração social, é uma ferramenta de reconhecimento e aceitação social, portanto, por qualquer que seja a razão que o impeça de trabalhar, fará com que essa mesma sociedade o rejeite em diferentes medidas.
Eu mesmo, ao longo da minha trajetória profissional, me sentia sozinho, até porque, na maioria das vezes, eu era a única pessoa com deficiência lá.
No entanto, não posso negar que tive privilégios. Minha condição pouco atrapalha minhas atividades profissionais, do meu jeito, consegui um nível de autonomia que me permitiu fazer coisas que as pessoas nem esperavam. Nem por isso, fiquei livre de capacitismos do meio laboral, desde perguntas esdrúxulas até levar em conta minha capacidade física para uma vaga onde o fator físico era absolutamente irrelevante.
Como já contei em outros textos, a solidão de representatividade sempre me acompanhou, pelo fato de que nunca permiti que pessoas delimitassem até onde eu poderia chegar. Porém, era impossível negar que havia um hiato de representação, por isso, fiz dessa questão um tema de pesquisa (isso também já contei em outros textos).
Não foram poucas as vezes que tive que explicar para as pessoas que eu trabalhava, e principalmente, que eu precisava trabalhar. Também não foram poucas as pessoas que perguntavam se eu não era aposentado, recebia um benefício ou algo que justificasse a minha dificuldade (imposta por eles) para que eu não trabalhasse.
É compreensível esse pensamento, afinal não há tanta informação que desconstrua esse mito, e as que existem não estão claramente no Jornal Nacional às 20h. Porém, apesar de compreensível, esse comportamento não é aceitável. Visto que muitas dessas pessoas podem ser empresários, ou até mesmo influenciar uma oportunidade de trabalho para uma pessoa com deficiência.
Portanto, o trabalho de desconstrução do senso comum, vai além da legislação, da possibilidade de punição. Passa muito pela necessidade de reeducar as pessoas para que elas vejam menos a condição (deficiência) e passem a enxergar as potencialidades dessas pessoas que buscam uma vaga de emprego.
E não é por falta de legislação que as vagas não são preenchidas, a Lei de Cotas está aí para provar que existe aparato legal para fiscalizar e, principalmente, incluir pessoas no mercado de trabalho. A Lei Brasileira de Inclusão reforça esse compromisso.
Porém, a realidade continua longe de ser aceitável, pois poucas são as pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Em 2022, em meio a pesquisas para uma trilogia de artigos sobre pessoas com deficiência no mercado de trabalho, achei uma Nota Técnica do Dieese que deu detalhes importantes sobre essas vagas, a partir daí cruzei esses dados com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e tracei o que chamei de “Perfil do Trabalhador Brasileiro”.
Ali deu para perceber quem somos, onde estamos e o quanto precisamos fazer ainda para que de fato incluamos as pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Os artigos acima citados são:
1 – DIREITO FUNDAMENTAL AO TRABALHO: INCLUSÃO E AUTONOMIA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA;2 – OS FUNDAMENTOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: O BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA À PESSOA COM DEFICIÊNCIA;3 – AS AÇÕES AFIRMATIVAS E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EFETIVA INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO.
E o motivo central desse texto, é a mais recente publicação “O trabalhador pessoa com deficiência” que traz uma análise a partir desse perfil, mas também relacionando com fatores como acessibilidade, educação e garantia legais de acesso ao trabalho.
O TRABALHADOR PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
Todos os artigos estão disponíveis para leitura e pesquisas nesse link.