Shirley Nunes nasceu com acondroplasia, displasia óssea que impede o crescimento. Luthier, Rogério Resende adaptou um piano para que a estudante pudesse alcançar os pedais do instrumento.
 
Por Letícia Carvalho, G1 DF
 
Shirley Nunes ao lado de Rogério Resende, especialista em reformar, afinar e construir pianos, que a presenteou com um instrumento adaptado (Foto: Letícia Carvalho/G1 )
Shirley Nunes ao lado de Rogério Resende, especialista em reformar, afinar e construir pianos, que a presenteou com um instrumento adaptado (Foto: Letícia Carvalho/G1 )
 
Os alunos que percorrem os corredores da Casa do Estudante da Universidade de Brasília (UnB) vão passar a ouvir – além dos sons das cigarras – clássicos de Beethoven, Chopin e Rachmaninoff. A estudante de música Shirley Nunes, de 27 anos, ganhou nesta quinta-feira (28) um piano de cauda feito sob medida para o seu 1,18 metro de altura.
 
Click AQUI para ver o vídeo.
 
A jovem nasceu com acondroplasia, uma displasia óssea que impede o crescimento. A acondroplasia é o tipo mais comum de nanismo, e causa o encurtamento das pernas, dos braços e do tronco. Por causa da estatura, Shirley não conseguia alcançar os pedais do instrumento, que tem em média de 72 centímetros entre o teclado e o chão.
 
Por esse motivo, ela se aventurava a tocar apenas composições barrocas – em que o pedal é um item dispensável –, já que a instituição não tem pianos adaptados. O sonho de poder interpretar clássicos de compositores do romantismo a fez procurar o luthier (especialista em reformar, afinar e construir instrumentos musicais) Rogério Resende.
 
Após conhecer a história da jovem, Resende decidiu criar um piano para a estudante. Durante oito meses, ele pesquisou e se dedicou a elaborar um modelo que atendesse às necessidades de Shirley. Assim, o especialista retirou 22 centímetros de um instrumento e o “rebaixou”, para que a jovem pudesse tocar sem nenhum tipo de adaptação.
 
Resultado de imagem para Estudante de música com nanismo ganha piano de cauda adaptado; veja vídeo
Estudante de música anã da UnB ganha piano de cauda adaptado
 
“Preparei [o piano] exatamente para a altura dela. Certamente, Shirley será uma grande pianista”, disse Resende, que também coleciona o instrumento e criou um museu itinerante com mais de 70 exemplares acústicos.
 
Posicionado no centro da sala do apartamento da estudante, o piano branco ganhou até uma inscrição em vermelho com o nome da brasiliense.
 
“Quando conheci o Rogério, vi que no mundo existem pessoas boas. Nunca imaginei que teria um piano de cauda. Estou maravilhada.”
 
Ajuda em dois passos
 
Antes de presenteá-la, Resende importou do Canadá um adaptador, que permitiu que Shirley alcançasse os pedais dos instrumentos do Departamento de Música da UnB.
 
Para o especialista, no entanto, o equipamento não bastava. “Aquilo não a atendia dignamente. Eu mesmo fiz a proposta para ela: ‘vou preparar um piano para você’”, afirmou o afinador.
 
Shirley Nunes ganhou nesta quinta-feira (28) um piano feito sob medida (Foto: Letícia Carvalho/G1)
Shirley Nunes ganhou nesta quinta-feira (28) um piano feito sob medida (Foto: Letícia Carvalho/G1)
 
Autodidata
 
Aos 6 anos, Shirley viu pela primeira vez o instrumento de teclas brancas e pretas. Sem condições financeiras para comprar um piano, os pais derem para a filha um teclado pequeno. O ouvido afinado a levou a aprender intuitivamente. Depois do teclado, a jovem passou a tocar órgão.
 
“Ouvia os hinos da igreja e tentava reproduzir.”
 
Quando completou 23 anos, Shirley decidiu se aventurar em um piano. Ela, então, ingressou em uma escola na Asa Sul, no Plano Piloto. Após 10 meses de aulas, decidiu fazer a prova de habilidades da UnB. Em 2016, Shirley foi aprovada no vestibular do Departamento de Música.
 
Agora, com um piano de cauda que leva a sua assinatura, Shirley almeja um novo passo: “Quero muito tocar em uma orquestra”.
 
Fonte: g1.globo.com