Os ensaios para participar do bloco de rua acontecem às segundas, em São Paulo; o desfile está marcado para o domingo, 11/2
 
Foto de um grupo de cinco mulheres, com os rostos pintados e chapéus. Uma delas é cadeirante e elas participam de um bloco de rua
 
“Todo mundo tem direito à alegria”, defende o artista visual mineiro Marcelo Xavier, de 68 anos. Cadeirante há duas décadas, desde que descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA), ele é o idealizador do bloco carnavalesco Todo Mundo Cabe no Mundo, que começa seus ensaios hoje, e acontecem todas as segundas-feiras até o Carnaval, sempre às 19h, no Parkbelo Espaço Multiuso (rua Piauí, 647, Santa Efigênia).“Nossa bateria é absolutamente democrática. Não temos uma rigidez musical. Mesmo atravessando o samba, todo mundo que chegar é bem-vindo”, diz Xavier, lembrando que o desfile está marcado para o dia 11 de fevereiro, domingo, e sai do mesmo local dos ensaios.
 
A agremiação, que surgiu em 2016, acolhe pessoas com deficiências de todos os tipos, idades e perfis. Xavier conta que a iniciativa surgiu da constatação de que havia pouco espaço para esse público na folia de rua. “Depois que passei a ser cadeirante, percebi que essa parte da população ficava de fora da festa. Faltava algo que os inspirasse a sair de casa e não sentirem-se excluídos”, afirma. “Essa exclusão começa pela própria pessoa com deficiência, que acaba evitando espaços públicos, com medo de ser descriminada, por não se encaixar num certo padrão”, diz.
 
A conclusão somou-se a um passado carnavalesco, antes usufruído pelo artista em outras cidades, quando Belo Horizonte ainda não respirava a folia. “Desde criança, eu adoro o Carnaval. Na adolescência, viajava para o interior ou para lugares como Olinda, Recife e Salvador, porque não existia Carnaval por aqui. Já na década de 80, quando surgiu o desfile dos blocos carnavalescos, criei um que se chamava Partido Alto. Desfilamos por três anos na Afonso Pena e foi uma experiência incrível”, afirma Xavier, ressaltando o recente reflorescimento do Carnaval de rua, de 2009 para cá.
 
“Parecia que meus sonhos tinham sido realizados. Poder ocupar a rua, pular Carnaval na minha cidade, depois voltar para minha casa e dormir na minha cama. Surgiu uma moçada cheia de energia, ocupando a cidade de um jeito muito importante. Agora, os ‘caretas’ que saiam fora”, diverte-se.
 
Para Xavier, o Carnaval se destaca por seu potencial de transformação – fato que o levou a criar o Todo Mundo Cabe no Mundo. “Vejo este Carnaval de rua, solto e espontâneo, como uma tremenda obra de arte, que traz a possibilidade de experimentar uma utopia estética e social, de criar novas realidades”, afirma o artista.
 
Ter um respiro dessa rigidez que a sociedade nos impõe é muito benéfico para a alma. Ainda mais para uma pessoa com deficiência, que geralmente só tem oportunidade de participar de encontros públicos em escolas e locais fechados. Poder ocupar as ruas e participar de uma manifestação forte como o Carnaval, junto a pessoas de todos os tipos, é maravilhoso”, sublinha, ressaltando que o feedback dos participantes e de seus familiares é sempre emocionante.