Por André Cia
 
Ele se considera um barbarense por adoção. Sua ligação e paixão pela cidade foram despertadas assim que chegou ao município, em 2009, para a demonstração de um serviço de acessibilidade que realizava em São Paulo há muitos anos: o trabalho com portadores de necessidades especiais. E foi assim que Heloísio Ribeiro Neves, o seu Neves, se transformou no primeiro motorista de táxi adaptado de Santa Bárbara dOeste.
 
Natural de Montes Claros (MG), ele conta que, em 2009, morava em São Paulo quando foi convidado pelo prefeito barbarense na época para realizar uma demonstração do trabalho que realizava com cadeirantes. “Eles gostaram e acabei sendo convidado para trabalhar na cidade e me apaixonei por Santa Bárbara”, diz.
 
Mas a ligação com o tema teve uma razão especial: um de seus filhos, Cibele, hoje, com 42 anos, nasceu com asfixia e teve paralisia cerebral. Ela sobreviveu, no entanto ficou dependente de cadeira de rodas até os 15 anos. Até essa idade, Neves explica que a grande dificuldade justamente era transportá-la para diferentes lugares, como consultas, hospitais e tratamentos. “Foi nesse momento que comecei a perceber o quanto a pessoa com deficiência no nosso país não tinha uma infraestrutura adequada. A locomoção era um dos pontos negativos. Como eu sentia literalmente isso na pele todos os dias decidi entrar nesta luta”, disse.
 
Em São Paulo, antes de se transformar em motorista de transporte para pessoas com deficiência, Neves havia trabalhado por muitos anos como motorista de ônibus coletivo até que foi convidado para trabalhar no projeto social da Prefeitura paulistana, o “Atende” (serviço de transporte público especial). Depois disso, decidiu ter o próprio veículo e trabalhar como autônomo adaptando um táxi: um modelo Chevrolet Spin, dotado de rampa de acessibilidade e de todos os instrumentos para o transporte do cadeirante com segurança e conforto. “Quando você vivencia diariamente aquele problema, acaba aprendendo a conviver com ele, e também a ver o que podemos fazer para resolvê-lo. No meu caso, eu sabia que o transporte adaptado iria ajudar muitas pessoas que não tinham como se locomover”.
 
MUDANÇA
Há nove anos morando em Santa Bárbara, seu Neves se diz totalmente adaptado e feliz à cidade que o acolheu de braços abertos, e onde pode desenvolver ainda mais projetos nesta área. É presidente da APENEF (Associação de Pessoas com Necessidades Especiais) do município. Além disso, trabalha com o serviço de vans adaptadas, destinado para pessoas carentes e com necessidades especiais do município.
 
Já o táxi, ele explica que é utilizado por pessoas que também têm alguma limitação física, mas que não estão inseridas no programa municipal de transporte público adaptado. “Fico muito feliz em poder ajudar a todos que necessitam se locomover e que não tem um veículo especial para esse fim”, disse.
 
Neves faz questão de frisar que o portador de necessidade especial é uma pessoa como qualquer outra, apenas com uma limitação física, e que devem ter o direito de ir e vir respeitados.
 
UNIÃO
Segundo Neves, a luta que teve com o tratamento da filha fez com que toda sua família acabasse se aproximando do tema. Além dele, que trabalha há muitos anos com essa população, a tese de pós-graduação de sua esposa foi da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. E o filho se formou em fisioterapia. “Todos nós, de alguma forma, nos unimos pela causa da Cibele, que se tornou uma luta familiar”, disse.
 
Orgulhoso por morar numa cidade que se preocupa com a questão da deficiência, Neves destaca que Santa Bárbara acabou se transformando numa referência em transporte adaptado na RMC (Região Metropolitana de Campinas). “Depois de nós, outras cidades também começaram a investir nessa área”. Pelo trabalho realizado na cidade, em 2015, Neves recebeu da Câmara de Santa Bárbara, o título honorífico de cidadão barbarense.
 
LUTA PELA ACESSIBILIDADE
Desde 2013, a Prefeitura de Santa Bárbara executa o Programa de Implantação de Acessibilidade, projeto que tem o objetivo de adequar prédios e espaços públicos com instalação de dispositivos de acessibilidade, como rampas, corrimãos, pisos táteis, faixas elevadas, elevadores, entre outras melhorias.
 
Os novos prédios e áreas construídos de 2013 até o momento já contam com tais dispositivos; enquanto que, os prédios e áreas antigos, cerca de 90 espaços, passaram ou passam por reformas, como o Museu da Imigração, Novo Centro de Promoção Social (antigo CIMCA), Avenida Monte Castelo, entre outros pontos, que recebem atualmente os serviços de acessibilidade.
 
Segundo o prefeito Denis Andia (PV), o Programa de Implantação de Acessibilidade atende o direito das pessoas com necessidades especiais. “Qualquer pessoa, de qualquer condição, pode ter acesso aos serviços que são prestados. Ninguém pode se privar de ter acesso a algo que é oferecido ao cidadão”.
 
Além destes espaços, a Prefeitura promoveu a acessibilidade na frota da Saúde, Educação e do Transporte Coletivo Urbano. “Essa ação tem que ser contínua. Que essa filosofia e este conceito permaneçam no rol de preocupações das administrações públicas, levando estas melhorias também para dentro dos bairros”, disse Andia.