Já imaginou um herói sem poderes, sem habilidades, sem oportunidades. Herói este sempre olhado com desconfiança, desprezo, medo. Um herói submetido ao submundo da violência psíquica. Um herói do fracasso.

Talvez você concluía que ele não é um herói, mas sim a descrição de um possível ou até provável vilão.

Mas não, ele é um é herói sim e digo mais é um exemplo de superação, um ser especial, um benção onde estiver. Um herói porque apesar de tudo está sempre feliz e de bem com a vida. Um herói que tem como superpoderes a capacidade de rir na pior das dores.

Um herói que tira força das partes que faltam, da ausência, da negação de ser diferente. Um herói criado e alimentado por seu maior vilão.

Construí essa pequena alegoria para mostrar como nós pessoas com deficiência somos vistos pelas pessoas sem deficiência. Somos os heróis do fracasso, somos materialização de um discurso raso, frio, incoerente e mentiroso.

Pois ao mesmo tempo que somos chamados de heróis, de exemplos de inspiração, somos tratados de forma diminutiva tendo negadas oportunidades básicas de educação, trabalho, desenvolvimento pessoal e profissional. Ficando sempre a margem da miséria social, a mercê de “bons feitores” que somados a sociedade são os vilões da nossa vida. E são vilões por usarem a gente como “escada” para caridade e marketing social, quando na verdade, deveriam lutar com a gente para quebrar esses mitos.

Enquanto perpetuarmos discursos capacitistas como heróis, exemplo de superação, especial, anjo… entre outros seguiremos sendo heróis do fracasso tendo como principal vilão uma sociedade capacitista que lucra com a espetacularização da pessoa com deficiência.