Tijuca tem espaços de esporte e artes para pessoas com deficiência, como rúgbi de cadeira de rodas

 

 “Nada deve parecer impossível de mudar”. Esse trecho do poema “Nada é impossível de mudar”, do escritor alemão Bertold Brecht (1898-1956) se encaixa perfeitamente em projetos esportivos e culturais para pessoas portadoras de necessidades especiais. Mesmo com as dificuldades que a vida e a sociedade lhes impõem, muitas delas têm conseguido dar a volta por cima com a ajuda de clubes e espaços da Grande Tijuca.

Na Associação Atlética Light, no Grajaú, por exemplo, as portas foram abertas para dois projetos esportivos formados por pessoas tetraparéticas (que possuem os membros inferiores e superiores comprometidos de alguma forma). As razões passam por lesões na medula, distrofia muscular e paralisia cerebral. Wagner Coe, presidente do clube, que trabalhou durante oito anos na Secretaria municipal de Esportes e Lazer, critica a falta de apoio aos esportes para portadores de necessidades especiais no Brasil.

— Eles sofrem muito com isso. Abrir as portas para eles foi algo que fiz, pois sei como é difícil eles conseguirem esse “abraço”. Fico muito feliz ao ver o sorriso de cada um deles e de seus familiares — diz.

O Power Soccer, da ONG Instituto Novo Ser, que existe desde 2010, treina no local há cerca de um ano. Devido ao grande comprometimento de seus atletas — que possuem distrofia muscular ou paralisia cerebral —, as cadeiras são motorizadas. Os meninos são atuais bicampeões brasileiros e ganharam a Taça Libertadores da modalidade, em junho, no Uruguai.

Um dos atletas do Power Soccer, Bernardo Borges, de 20 anos, foi eleito o melhor jogador das Américas e é o retrato da superação. Terezinha Borges diz que o filho, que tem distrofia muscular de Duchenne, é outra pessoa desde que entrou para o time, há três anos.

— Ele é mais feliz e mais otimista em relação à vida — avalia Terezinha.

Vai encarar? Atletas do rúgbi para cadeira de rodas na quadra da Light – Hermes de Paula / Agência O Globo
Também treinando na quadra da Light, desde junho, está o rugby de cadeira de rodas do Clube Santer.

— Queremos acabar com o mito de que somos inválidos. Muito pelo contrário. A vida lhe mostra novas caras e oportunidades, basta ter força de vontade e superação acima de tudo — orgulha-se o jogador Rafael Pinho.

INTEGRAÇÃO TAMBÉM PELA ARTE

Outro local aberto para portadores de necessidades especiais é o Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, na Tijuca. Desde sua inauguração, há dez anos, o espaço é usado pela Pulsar Cia. de Dança, que tem cadeirantes entre seus bailarinos.

— A qualidade que atingimos devemos muito ao Centro Coreográfico, que conta com uma estrutura espetacular e acessível. Se tivéssemos que pagar um aluguel por um espaço, não sei se estaríamos nesse patamar que estamos — diz a bailarina, diretora e coreógrafa da companhia, Teresa Taquechel.

Segundo ela, a dança ajuda a aumentar a autoestima dos cadeirantes, o que, consequentemente, acaba servindo de inspiração para quem não precisa de cadeira de rodas:

— A arte é para todos, sem distinção. Essa união é muito boa para os cadeirantes, que não ficam parados, e para nós, que, ao vermos a força de vontade deles, ganhamos um estímulo extra.

Já o Instituto TIM, que promove aulas de bateria de carnaval, ocupa o Centro Municipal de Referência da Música Carioca Arthur da Távola (CRMC), todos os sábados, desde 2013. Entre os alunos, crianças e jovens surdos, cegos ou com algum tipo de deficiência mental.

— A grande proposta é a integração dos jovens. É uma reação muito bacana entre eles. Todos se entendem, sem preconceito — diz Mestre Mangueirinha, da Unidos de Vila Isabel.

Mangueirinha lembra que as portas do instituto estão abertas para quem quiser participar, independentemente de necessidades especiais.

— Nosso objetivo é trazer essas pessoas para o convívio com a sociedade. O deficiente precisa sair de casa e ter uma vida normal, sem medo de ser feliz — afirma.