A prática esportiva fora do universo profissional é importante para quem deseja cuidar do corpo, da mente, ou apenas ter uma vida saudável. Mas ela também está na rotina de quem procura superar as limitações impostas por fatalidades da vida.
Ainda que tenha tentado praticar diversos tipos deesporte, remar não era um projeto do empresário Alan Mazzoleni, 37 anos, de São Bernardo do Campo. Com muita determinação e ajuda de amigos, onze anos depois de sofrer um acidente de carro que o deixou tetraplégico, ele recuperou parte dos movimentos do tronco e dos braços através da fisioterapia.
E competiu pela primeira vez em uma prova de paddleboard. (Veja a reportagem completa)
– São dez anos sem entrar na água desde que sofri o acidente. Sem palavras. É como um batizado. Tem que agradecer a Deus. Não dá nem para raciocinar ainda. Muito orgulho e cansaço, só respirando. É agradecer pela vida sempre. Continuar é o mais importante – disse Alan emocionado após a prova.
O stand up paddle tem se tornado cada vez mais comuns pelas praias e lagoas do Brasil, e diversas competições são realizadas para atletas amadores eprofissionais. No Aloha Spirit, uma das maiores, todos largam juntos nas provas de percursos com 3km, 6km e 9km. São mais de 350 participantes, cada um com o seu tempo de remada.
Deficientes como Alan e Robson Gerônimo, de 42 anos, que não possuem o movimento dos membros inferiores, participam da prova em outra modalidade: aremada de pranchão ou paddleboard. Alan completou a prova de 3km em 1h19m32s, ficando em último, mas o mais importante, conquistando sua meta e competindo com pessoas sem deficiência.
– Muita ansiedade. Dormi duas horas essa noite e vim rezando para conseguir. Não é uma coisa tão fácil, tem que vir, tem que se preparar, mas a sensação no final é de agradecer a Deus todos os dias por estar vivo. Conhecendo histórias de outras pessoas com deficiência que são felizes e têm qualidade de vida, percebi que todos têm limitações, capacidades e habilidades que servem para alguma coisa. Comecei a nadar, depois fui jogar rúgbi em cadeira de rodas, voltei a fazer academia e puxar ferro usando algumas adaptações pra segurar os aparelhos. Após o acidente engordei muito e mesmo com essas atividades não conseguia perder peso. Há alguns anos, mudei a alimentação e comecei a correr com minha cadeira de rodas também – diz Alan.
A história de Robson Gerônimo de Souza, de 44 anos, também foi marcada por um acidente de carro. Antes de ficar paraplégico em colisão em Ubatuba, São Paulo, ele já surfava e competia como triatleta. A deficiência não o afastou do mar, e o motivou a ser exemplo para outros que pensam em desistir devido a limitações físicas. Ele completou a prova de 3km de paddleboard em48m8s, ficando à frente de atletas sem deficiência.
– Não devemos desistir nunca, isso para mim é saúde, é qualidade de vida, é bem estar e inclusão social. Já faz quatorze anos que eu remo deitado. Antes eu era surfista profissional e triatleta. Agora participo das competições na categoria paddleboard. Ficar em casa descansando, achando que não vale a pena viver, não está com nada. A gente tem que colocar a força é na mente. O mais importante é ser feliz – diz Robson Gerônimo.
Em uma competição que reúne atletas de todos os níveis e categorias, com deficiência e sem deficiência, é possível perceber que as pessoas se envolvem e se ajudam. Os competidores formam uma rede colaborativa para tornar possíveis os sonhos de todos.
– Conto com a força dos amigos, pois sozinho não chegamos a lugar algum. O amigo ajuda a incluir dentro do mar, a sair de dentro do mar, a colocar na cadeira de rodas e a dividir nossas experiências. É importante as pessoas olharem e saberem que podem fazer qualquer tipo de esporte. Fico motivado de poder usar meu corpo como espelho para outros – disse.