Melina Reis, a primeira bailarina com perna amputada.
Não há relatos na literatura de prótese para balé clássico, afirma especialista. ‘Pra mim é um milagre’, conta Melina Reis, que renovou sonho em Campinas.
Uma prótese de ponta de pé específica para dançar balé clássico devolveu à Melina Reis um sonho de criança. Após um acidente de carro há 13 anos, mais de 30 cirurgias e complicações, a bailarina sofreu uma amputação na perna esquerda. O desafio de voltar a calçar as sapatilhas foi abraçado por um especialista em próteses de Campinas (SP).
O molde foi feito a partir do pé normal de Melina. Foi preciso aplicar conceitos de biomecânica e cálculos matemáticos para buscar uma inovação na área.
“Eu fiz uma varredura na literatura e não tem nada publicado em relação a confecção de pé para uso em sapatilha de ponta para a realização de balé clássico”, conta o médico especialista em próteses José André Carvalho, diretor do Instituto de Prótese e Órtese de Campinas.
O esforço no desenvolvimento da prótese e também na adaptação garantiu à Melina o retorno às aulas de balé em menos de uma semana após o fim dos testes com o novo pé de bailarina.
“Para uma bailarina, o sonho sempre é subir na ponta. (…) Pra mim é um milagre. É algo totalmente fora daquilo que eu poderia imaginar que poderia acontecer na minha vida”, desabafa a jovem.
Angústia
A postura e a beleza foram aliadas de Melina, que chegou a trabalhar como modelo e se dedicou por anos ao balé desde a infância. O acidente que sofreu foi uma colisão entre dois veículos em um cruzamento, e afetou diretamente uma das pernas.
“O carro pegou em mim, pegou na minha perna, bati o rosto. Voei não sei quantos metros pra frente. Foi algo assim… bem triste”, lembra Melina, que ficou quatro meses internada na época.
Amputação e a primeira prótese
Há um ano, após passar por complicações na perna afetada e sofrer a amputação, Melina passou a usar uma prótese no lugar do pé esquerdo. A pergunta se o sonho de menina havia se perdido para sempre era inevitável.
“Foi a primeira coisa que eu perguntei: Eu vou poder voltar a dançar? Vou poder voltar para o balé?”, conta.
Prótese rara
O caso de Melina chegou até o especialista José André Carvalho. Ela precisava de uma prótese muito específica, de um pé na posição de ponta, essencial para os passos de uma bailarina de balé clássico.
Usando resina, fibra de carbono e gesso, Dr. Carvalho conseguiu atingir o resultado que ela esperava, mas esse era só o primeiro passo em busca da perfeição em cada movimento.
“O desafio é ela conseguir se manter equilibrada sobre a prótese usando como área para apoio 1cm²”, explica o especialista.
Após testes e alguns ajustes, devido à diferença de altura, por exemplo, a prótese ficou pronta e se encaixou perfeitamente dentro de uma sapatilha de balé clássico, do jeito que ela queria.
“A maior dificuldade é o nervosismo, a emoção, que não dá para controlar muito bem, e a questão do equilíbrio mesmo”, conta Melina.
De volta aos ensaios
Poucos dias após o fim dos testes, Melina já se misturou a outras bailarinas, com o mesmo porte e dedicação, em aulas de balé. E virou referência de superação para as demais alunas.
“Foi maravilhoso. Eu me senti viva de novo. Parece que estou vivendo um sonho, nem parece que é verdade” diz emocionada.
Fonte: G1