Diagnosticado com autismo leve, Luís Fernando de oito anos achou no esporte um meio de se conviver melhor com outras crianças e tem evoluído o convívio social

Por GloboEsporte.com* – *Jheniffer Núbia, estagiária, sob a supervisão de Daniele Lira.

                                         Luís encontrou no esporte uma forma de melhorar o convívio social (Foto: Fernanda Moreira/ Arquivo pessoal)
Luís encontrou no esporte uma forma de melhorar o convívio social (Foto: Fernanda Moreira/ Arquivo pessoal)

Diagnosticado com autismo nível leve, Luís Fernando de 10 anos teve na equitação e muay thai um meio de desenvolver a coordenação motora e uma forma de se sociabilizar. O diagnóstico foi dado quando Luís Fernando Moreira tinha oito anos, e segundo Fernanda Moreira, a mãe, buscaram ajuda médica quando o filho começou a frequentar a escola, pois foi quando notou a dificuldade dele de interagir com outros coleguinhas.
 
Mudei o Lu cinco vezes de escola, até levá-lo ao psicoterapeuta, onde ele foi diagnosticado com autismo nível leve. É bom falar sobre esse assunto porque os pais precisam entender o processo e o fato de ele ser autista não significa que ele não possa fazer coisas que para nós tidos como ‘normais’ fazemos. Assim como montar em um cavalo ou aprender técnicas de defesas, que é o que ele aprender, por exemplo, no muay thai – explica Fernanda.
 
Com o diagnóstico em mãos, Fernanda conta que foi preciso se organizar para analisar as prioridades para atender as necessidades do filho. Seguindo o conselho do médico, ela parou de olhar o que poderia ser feito somente no futuro e começou a viver cada fase de Luís. Fernanda fala que o primeiro passo foi colocá-lo para praticar um esporte, e depois de analisar algumas opções, a equitação foi a que conquistou o garoto.
 
Sempre andei pelo Parque Ecológico com meus filhos e é comum para nós essa rota. Um dia trouxe o Luís para conhecer o haras e ele gostou dos cavalos, depois de fazermos uma trilha, e foi quando ele escolheu a equitação para ser o esporte de que iniciaria a praticar – comenta Fernanda.

Luís pratica equitação e muay thai para melhorar a interação social (Foto: Jheniffer Núbia)
Luís pratica equitação e muay thai para melhorar a interação social (Foto: Jheniffer Núbia)

A professora Marilin Mamani, que acompanha Luís na equitação, diz que o aluno tem se destacado frente aos demais colegas pois sempre está focado e determinado. Quanto a interação, Mari diz que ele sempre acaba ajudando os coleguinhas.
 
No começo o Luís mal conseguia ficar em pé no cavalo e agora ele até trota e tem um perfeito domínio do cavalo. Quantos aos colegas sempre que tem um novato ele acaba ajudando por ser sempre focado e determinado a quitação se tornou um desafio a ser superado diariamente a qual ele tem feito – fala Mari.
 
Após a morte do pai há três anos, Fernanda diz que Luís achou no muay thai um referencial masculino para seguir.
 
Quando levo ele para fazer as aulas de muay thai deixo ele na porta e saio, pois lá ele tem o professor e os colegas e fica mais à vontade. Apesar de ele ter os tios que sempre o ajudam, no muay thai ele achou uma referência masculina até mesmo a questão da postura e do comportamento – comenta Fernanda.
 

Equitação é uma das maneiras de ajudar o atleta com autismo (Foto: Jheniffer Núbia)
Equitação é uma das maneiras de ajudar o atleta com autismo (Foto: Jheniffer Núbia)

Para o professor de muay thai, Billy de Lima, a evolução de Luís se dá ao cuidado que a família tem com ele, pois ele sempre está envolvido nos trabalhos feitos na academia sem problemas com a socialização.
 
Quando soube o quadro de saúde de Luís Fernando imaginei que fosse um desafio, mas a família dele está sempre bem perto e ajudando no desempenho dele. Aqui na academia ele é bem entrosado e social e com as artes marciais, isso é uma disciplina para ele – comenta Billy.
 
Luís é acompanhado por uma equipe de especialistas que avaliam o seu desenvolvimento tanto em áreas internas no meio hospitalar, como também nas externas. A fisioterapeuta ocupacional, Areta Pessoa, é uma dessas profissionais e ela fala da importância da interação externa, seja ela com pessoas, que o caso do muay thai, como com animais, pois é o que desempenha o autocontrole e domínio do paciente.
 
Há dois anos eu atendo o Luís e nós estávamos atendendo ele na clínica, aí foi quando pudemos notar a grande necessidade dessas sociabilização, então propus para mãe dele para avaliar o desempenho dele tanto a questão da coordenação motora global, quanto a questão dessa interação com pessoas. Após a avaliação faço um laudo e encaminho para o neuropediatra que cuida dele – fala fisioterapeuta.
 

Luís arrisca saltos nas aulas (Foto: Jheniffer Núbia)
Luís arrisca saltos nas aulas (Foto: Jheniffer Núbia)

O neuropediatra de Luís, Marcos Antonio Sueyassu, foi quem o diagnosticou com autismo leve. Ele explica que o esporte é uma forma utilizada para o tratamento e que Luís teve grandes evoluções com a adequação tanto na equitação quanto no muay thai.
 
O esporte é um tipo de comunicação que vai além da verbal, pois é um forma de expressão corporal e também tem a parte da integração com outras pessoas, seja ela da mesma faixa etária ou não, e também existe a criatividade envolvida. Então, por meio do esporte há estimulo de onde existe a falha. Com isso o esporte resgata esses valores trazendo a criança a necessidade de cumprir regras seja ela com desvios de padrão ou as tidas como saudáveis, e assim o esporte tem esse poder de igualar. Quanto a evolução do Luís posso resumir em uma única palavra: fantástica. A gente tenta o máximo para aproximar ele da síndrome de Asperger, que é um grau mais leve ainda, e no esporte temos exemplos de atletas que tem a síndrome, que é caso do jogador de futebol Messi e o atleta do basquete Michael Jordan – explica médico Sueyassu.
 

Fonte: globoesporte.globo.com