Herdeira de Jane Karla Rodrigues, dona de 5 ouros entre os adultos, Lethicia Rodrigues, de 14 anos, conquista o título na sua primeira participação nos Jogos Parapan-Americanos de Jovens em SP

Por Flávio Dilascio, São Paulo

O gosto pela competição e a paixão pelo tênis de mesa entregam um pouco da origem de Lethicia. O sobrenome Rodrigues e a naturalidade goiana denunciam a ficha completa da extrovertida adolescente de 14 anos: a atleta juvenil é filha da pentacampeã parapan-americana Jane Karla Rodrigues. Nesta terça, Lethicia fez a sua estreia nos Jogos Parapan-Americanos de Jovens, que estão sendo realizados no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo. Demonstrando muito talento, a goiana venceu todas as suas adversárias com facilidade levando o título de simples feminino classe 8. Com personalidade de gente grande, a adolescente garante que não se sente pressionada pelo parentesco com Jane, que migrou para o tiro com o arco em 2015.
 
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Não me sinto com peso de ganhar medalha. Pelo contrário, me sinto orgulhosa por ser filha da Jane, porque todo mundo pergunta da minha mãe e fala super bem dela. Ela me dá muitos conselhos sobre o esporte no dia a dia. Eu também procuro ajudá-la sempre que posso. Estou muito feliz com o meu primeiro ouro em Parapans – contou Lethicia, que recebeu o apoio de Jane à distância uma vez que a atleta não conseguiu estar presente no evento.
 
Diferentemente de Jane, que teve poliomielite aos três anos de idade, Lethicia adquiriu a sua deficiência a partir da adolescência. Segundo os médicos que a examinaram, ela e o irmão herderam do pai – o também atleta de tênis de mesa paralímpico Lincoln Lacerda – um síndrome rara que afeta os membros inferiores. Lethicia não consegue ficar mais de dez minutos em pé. A partir de então, a jovem sente muitas dores nas pernas e precisa se sentar. Apesar do problema, a adolescente foi classificada na classe 8, uma das de menor deficiência do tênis de mesa paralímpico, o que gerou um certo descontentamento na atleta juvenil.

   Lethicia e Jane Karla: orgulhosas uma da outra (Foto: Fegotarco/Divulgação)

Fiz classificação funcional ano passado nos Jogos Escolares e deu classe 7 (a escala vai de 1 a 10, sendo a 1 a de maior grau de deficiência). Esse ano fiz a classificação internacional e deu 8. Queria jogar de cadeira de rodas, mas a minha classificação funcional não permitiu, então tenho que jogar em pé – comentou.
 
Atleta ficou dois anos sem jogar
 
Lethicia começou no tênis de mesa aos nove anos de idade. Como ainda não tinha deficiência física, ela disputava a variante olímpica da modalidade. As dificuldades de locomoção surgiram na puberdade. Por conta da nova realidade, a goiana ficou dois anos afastada do esporte, retornando ao alto rendimento no ano passado.
 
Foram dois anos muito difíceis, porque tive que me acostumar com a minha deficiência, com as dores e com as pessoas ridículas da minha escola. Agora já está tudo bem. Sou uma pessoa feliz – disse ela, que nas horas vagas gosta de ver filmes com a mãe ou reunir-se com a sua turma na casa de amigos.
 
Goiana venceu todas as suas três adversárias no torneio de simples do Parapan de Jovens (Foto: Leandro Martins/CPB/MPIX)
“Mãe” dos cachorros Bilu, Lili e Nina, que moram em sua casa em Goiânia, ela ressalta também que o tênis de mesa paralímpico é uma forma de melhorar a sua alto estima.
 
Além do ganho de saúde, me sinto psicologicamente muito mais forte. É como se eu tivesse virado outra pessoa desde que voltei ao esporte no ano passado – finalizou.
 
Os Jogos Parapan-Americanos de Jovens vão até sábado. Realizada de quatro em quatro anos, a edição 2016 do evento conta com a participação de pouco mais de 800 atletas de 19 países. O programa da competição conta com 12 modalidades: atletismo, bocha, futebol de 5, futebol de 7, goalball, judô, halterofilismo, vôlei sentado, natação, tênis de mesa, basquete em cadeira de rodas e tênis em cadeira de rodas.