Pessoas sem deficiência ocupavam áreas exclusivas no Parque do Povo, no São João de Campina Grande, nesta noite de quarta-feira (7).
 
Por Artur Lira, G1 PB, Campina Grande
 
Paulo precisou esperar pessoa sem deficiência sair do banheiro para usá-lo e já havia outras pessoas na fila (Foto: Artur Lira/G1)
Paulo precisou esperar pessoa sem deficiência sair do banheiro para usá-lo e já havia outras pessoas na fila (Foto: Artur Lira/G1)
 
O camarote da acessibilidade e o banheiro exclusivo, que deveriam ser usados apenas por pessoas com deficiência, no Parque do Povo, durante o São João 2017 de Campina Grande, são usados por pessoas sem nenhuma limitação física – e que “não perceberam” a sinalização de locais exclusivos. O G1 flagrou o problema durante a noite desta quarta-feira (7), durante show do cantor Mano Walter, ao acompanhar um cadeirante na festa.
 
Paulo Robson da Silva Neves, 25 anos, precisou pedir licença às pessoas que estavam no local de maneira indevida para poder ter acesso ao espaço. Ele ainda foi constrangido por ter “demorado” ao usar o banheiro acessível, que deveria ser de uso exclusivo dele e de outros deficientes.
 
Empresa disse que, se problema não for resolvido, vai desmontar camarote exclusivo para pessoas com deficiência no Parque do Povo (Foto: Artur Lira/G1)
Empresa disse que, se problema não for resolvido, vai desmontar camarote exclusivo para pessoas com deficiência no Parque do Povo (Foto: Artur Lira/G1)
 
As assessorias de imprensa das empresas Aliança, responsável pela organização do evento, e Medow Promo, que fez a montagem da estrutura da festa, informaram que o camarote foi uma solicitação do presidente da Comissão de Acessibilidade da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Lívio José da Silva, em reunião no Ministério Público da Paraíba (MPPB), e que esta comissão ficou encarregada de controlar o acesso aos locais.
 
A empresa Medow Promo informou ainda que já havia tomado conhecimento do problema, inclusive com registro de fotos, e que comunicou o MPPB e a comissão para sanar a irregularidade. A Medow informou que vai desmontar o camarote caso o problema não seja resolvido pela comissão. O G1 tentou entrar em contato com o Lívio José da Silva, mas as ligações não foram atendidas.
 

CAMAROTE ‘INVADIDO’

 
 
Paulo precisou pedir licença às pessoas sem deficiência para ter espaço para ver show no camarote da acessibilidade (Foto: Artur Lira/G1)
Paulo precisou pedir licença às pessoas sem deficiência para ter espaço para ver show no camarote da acessibilidade (Foto: Artur Lira/G1)
 
Paulo Robson da Silva Neves é da cidade de São Domingos do Cariri, na Paraíba, e estava visitando O Maior São João do Mundo nesta quinta-feira. Ele precisa usar cadeira de rodas desde 11 de maio de 2011, depois que ficou tetraplégico em um acidente de moto. Ele conta que ficou sabendo do camarote acessibilidade apenas quando chegou ao Parque do Povo, através de um amigo. Ao ver outras pessoas sem deficiência usando o local, Paulo ficou revoltado.
 
“Eu fico revoltado. Eu vejo que ninguém tem deficiência aqui e está se aproveitando (do espaço). Até o banheiro está interditado (pelas pessoas sem deficiência)”, disse ele.
 
Paulo contou com ajuda do amigo Alan, que também ficou revoltado, para chegar ao camarote (Foto: Artur Lira/G1)
Paulo contou com ajuda do amigo Alan, que também ficou revoltado, para chegar ao camarote (Foto: Artur Lira/G1)
 
Alan rodrigues, 20 anos, é amigo de Paulo Robson, e estava ajudando o deslocamento do cadeirante pelo Parque do Povo. Ele também ficou revoltado diante da situação. “Eu me sinto mal por vir ajudar e ver que as pessoas estão no lugar dele”, disse Alan. Mesmo após a chegada de Paulo, as pessoas sem deficiência continuaram no camarote dançando e consumindo bebidas.
 
Constrangimento no banheiro
 
Quando Paulo Robson foi ao banheiro acessível, havia cerca de 20 pessoas sem deficiência na fila. Depois que a pessoa que usava o banheiro – e que não era deficiente – saiu, ele entrou para usá-lo e ficou no local por cerca de 10 minutos, tendo em vista a dificuldade em sair da cadeira de rodas, fazer as necessidades fisiológicas e voltar para a cadeira. Enquanto ele estava no banheiro, pessoas sem deficiência batiam na porta, pedindo para que ele fosse mais rápido. Uma jovem chegou a abrir a porta do banheiro por três vezes, enquanto ele usava o banheiro.
 
Ao sair do banheiro, ele também comentou ao G1 que o local estava muito sujo, pois, além das pessoas usando o banheiro exclusivo para deficientes, de maneira indevida, também não estavam tendo cuidado com a higiene.
 
“Está podre lá dentro”, disse o cadeirante Paulo Robson.
 
Ao lado do banheiro para deficientes, algumas pessoas ainda usaram um pedaço de madeira como barricada para fazer necessidades fisiológicas fora do banheiro.
 
‘Não sabia’
 
Bianca disse que não percebeu sinalização e não sabia que camarote era para deficientes (Foto: Artur Lira/G1)
Bianca disse que não percebeu sinalização e não sabia que camarote era para deficientes (Foto: Artur Lira/G1)
 
Bianca Karina Rocha, que se identificou como blogueira, foi uma das pessoas sem deficiência que entrou no camarote e no banheiro de acessibilidade. Ela disse que não sabia que eram locais exclusivos para deficientes, apesar das placas, e que deveria haver alguém controlando o local.
 
“Não sabia, não. Faltou sinalização, porque a gente estava no camarote vizinho e pensou que podia acessar esse. Para falar a verdade, eu nem prestei atenção. Poderia ter alguém para controlar, mas poderia ser aberto também, já que não tem cadeirante entrando e saindo. Eu acho que foi um erro da organização, porque não tem banheiros (comuns) desse lado, nem mostrando que (este banheiro) é para cadeirante. Está todo mundo entrando como se fosse uma coisa aberta”, disse a blogueira.
 
“Eu vou ter mais cuidado, porque eu não sabia e não prestei atenção. Até eu acessei o banheiro, pois eu são sabia que era para cadeirante, exclusivo”, disse Bianca Barros.
 
Banheiros distantes
 
Segundo o bombeiro civil que trabalhava ao lado do camarote da acessibilidade, em uma saída de emergência, e que pediu para não ser identificado, a distância do local do camarote e do banheiro acessível para os banheiros comuns é de 400 metros. Passando em meio ao público, demoraria cerca de 10 minutos para fazer o trajeto, dependendo da quantidade de pessoas, podendo chegar a 15 minutos, fora o tempo de espera da fila.
 
“Muita gente está fazendo suas necessidades fisiológicas fora do banheiro”, destacou o bombeiro civil.
 
Sobre a reclamação de falta de banheiros, a empresa disse que já está analisando uma forma de instalar novas baterias de banheiros químicos, mas destacou o cuidado necessário para que novos banheiros não prejudiquem a mobilidade do público e as saídas de emergência.
 
Fonte: g1.globo.com