Com área exclusiva para lutas adaptadas, competição teve atleta paralímpico de rugby, pupilo “atrevido” de José Aldo e lutador de MMA com paralisia cerebral

Xô, preconceito! Atletas com deficiência mostram desenvoltura no jiu-jítsu

Por Caio Blois* e Guido Nunes, Rio de Janeiro

 

Realizado no último domingo no Rio de Janeiro, o Campeonato Sul-Americano de Jiu-Jítsu teve na inclusão seu diferencial em relação a outros eventos de luta pelo mundo. Com uma área exclusiva para lutas especiais, a competição teve momentos de emoção para o público com lutas entre atletas deficientes e estrelas como José Aldo.

O evento organizado pela SJJSAF (Federação Sul-Americana de Jiu-Jitsu) mostrou que não existem barreiras para a prática do esporte. O faixa-preta Alan de Oliveira, de 26 anos, nasceu com paralisia cerebral. Já há dez anos lutando jiu-jítsu, ele era só sorrisos após sua luta.

– Eu nunca pensei que pudesse chegar até aqui, por todo o preconceito que a gente passa na vida. Eu sou um privilegiado de estar aqui com uma porção de pessoas especiais, grandes ídolos. Eu lutei na minha categoria, fiquei em terceiro lugar, lutei contra pessoas “normais” e ganhei também. É um dia muito especial para mim – declarou.

 

Com paralisia cerebral, o faixa-preta Alan de Oliveira venceu sua luta especial no Sul-Americano de Jiu-Jitsu (Foto: Caio Blois )

Com paralisia cerebral, o faixa-preta Alan de Oliveira venceu sua luta especial no Sul-Americano de Jiu-Jitsu (Foto: Caio Blois )

E se engana quem pensa que Alan é aguerrido apenas usando quimono. Com um cartel de cinco lutas no MMA, ele admite preferir o tatame, mas não descarta mais experiências no cage.

– Lutei cinco vezes no MMA. Ganhei duas e perdi três. Mas o que importa é participar, me sentir incluído. Meu esporte é o jiu-jítsu, mas se me convidarem de novo para lutar MMA, eu vou para dentro e vou ganhar – prometeu.

 

No colo de seu mestre, Marcelo Negrão, Joãozinho posa ao lado de José Aldo (Foto: Caio Blois )

No colo de seu mestre, Marcelo Negrão, Joãozinho posa ao lado de José Aldo (Foto: Caio Blois )

 

Uma das sensações do evento foi o menino Joãozinho, de sete anos. Com má formação congênita, ele não possui braços ou pernas, mas não fez disso obstáculo para lutar. Um dos frutos do projeto da Escola de Lutas José Aldo, na Maré, onde é aluno há dois anos, ele nem conhecia o ex-campeão peso-pena do UFC, que agora é seu ídolo.

– Eu fazia natação antes, foi quando apareceu o jiu-jitsu na minha vida. A natação era muito longe de casa, então, o jiu-jitsu era minha melhor opção. Antes eu não sabia quem era o Aldo, mas depois de ter ele como ídolo, conhecer ele foi muito emocionante. Muita emoção encontrar ele pessoalmente. Ele falou que eu sou bom (risos).

 
 
Confira lutas de atletas especiais no sul-americano de jiu-jitsu

Confira lutas de atletas especiais no sul-americano de jiu-jitsu

Já Julio, de 26 anos, já está acostumado com grandes disputas. Com má formação congênita, o atleta profissional de rugby para cadeirantes nunca imaginou praticar o esporte, mas hoje é apaixonado pela arte suave. Projeto Social e Esportivo Alvo da Luta.

– Eu conheci o projeto por meio do Mestre Jordan, que trabalha no mesmo lugar que eu e dá aula no Projeto Social e Esportivo Alvo da Luta. Ele me disse que eu era capaz de lutar, me mostrou como fazer tudo. Nunca passou pela minha cabeça. Aí eu comecei a treinar e me ajudou muito no rugby, principalmente no controle da respiração, condicionamento físico, minha performance melhorou, foi muito bom para mim.

Um ano e meio após conhecer o jiu-jítsu, ele elogiou a iniciativa de inclusão social da SJJSAF.

– Esses eventos tem sido muito importantes. É muito legal para mostrar para as pessoas que tem dificuldade de fazer atividades físicas de que elas são capazes, mostrar para as pessoas que tem condições como as nossas são capazes de praticar esportes. Não tem isso de limitação, é só ter força de vontade.

Para Julio, a Paralimpíada que disputou, no Rio, em 2016, modificou muito a forma com que o público enxerga as modalidades praticadas por deficientes.

– A Rio 2016 ajudou muito a romper as barreiras do preconceito. As pessoas não conheciam muito dos esportes paralímpicos. Até sabiam um ou outro, mas aqui, tiveram contato mais de perto. Nós queremos ser reconhecidos como atletas de alto rendimento, e não aquele clichê de “exemplo de superação”. Nós somos, mas queremos ser vistos como atletas.

 

Julio Braz é atleta profissional de rugby para cadeirantes (Foto: Reprodução)

Julio Braz é atleta profissional de rugby para cadeirantes (Foto: Reprodução)

Fonte: Xô, preconceito! Atletas com deficiência mostram desenvoltura no jiu-jítsu | combate | Sportv