Ser jornalista não é fácil. Ser jornalista com deficiência e buscar combater os capacitismos da imprensa é quase impossível. Mas ainda bem que existe esse “quase” que nos dá a chance de nadar contra a maré, e lutar um contra o sistema.

Antes de falarmos do capacitismo em si, é importante combater um mito jornalístico, a imparcialidade. É bem simples, ninguém é imparcial, e por um simples motivo: ao escolher as palavras desse texto eu já deixei de ser imparcial, pois imparcialidade é ausência de escolha, o que de fato, é impossível. Como diz o professor Cortella, se trocássemos a discussão sobre imparcialidade pela objetividade já avançaríamos muito.

E onde entra o capacitismo nisso? Então, desde o uso de termos antigos e errados como “portadores de deficiência, deficiente, especial e PCD” até a ideia de sofrimento, pois é comum ouvirmos por aí “fulano sofre/sofreu/sofrerá”, como se autor da matéria tivesse uma bola de cristal ou uma presunção que pudesse medir o coeficiente do sofrimento alheio.

Essas duas ideias se tornam capacitistas ao vender uma ideia falha, primeiro terminologicamente, pois é preciso representar e respeitar a pessoa com deficiência e não focar na particularidade (deficiência). Segundo a ideia de sofrimento causa imediatamente a ideia de pena e compaixão, o que também afeta a percepção da sociedade sobre a pessoa com deficiência.

Se ele sofre talvez não seja um bom profissional, se ele sofre talvez não seja um bom marido, se ele sofre talvez não seja um bom pai… E por aí vai. Por isso, é fundamental que tanto os jornalistas já experientes e os iniciantes consigam perceber e derrubar essas barreiras capacitistas.

A necessidade de cliques como aprovação para uma boa matéria também colocam o jornalista diante de um dilema, mas o princípio da verdade e informação correta devem permanecer.

No entanto, não é isso que temos visto por ai, pois a quantidade de títulos apelativos como “histórias de superação, exemplo, herói” mostram que a chamada capacitista ainda impera nos sites e portais de notícias. E como explicar isso? Primeiro, gera cliques e consequentemente dinheiro, segundo boa parte da comunidade como deficiência cresceu e vive em comunidades capacitistas que os tratam e os tornam “diferentes/especiais/melhores/piores” que os demais membros.

O desafio do jornalista é vencer isso. E o caminho é longo, mas começa na universidade quando se abre espaços para alunos com deficiência, e se coloca, a pessoa com deficiência dentro do debate jornalístico tanto como produtor ou mesmo quanto pauta; segundo, que os veículos de comunicação coloquem profissionais com deficiência dentro de suas redações, só com participação transformaremos a realidade; terceiro, que haja uma mudança de ótica, e que se passe a ver a pessoa com deficiência como parte da diversidade de corpos que temos na sociedade.

Mais do que escrever certo e bonitinho. O desafio é através da informação quebrar a barreira capacitista que nos impede de acessar espaços e conquistar objetivos. Em um artigo que fiz em 2019, identifiquei os principais tipos de capacitismos no jornalismo, são eles: terminológico, heroísmo, coitadismo, binômio doença/deficiência e objetificação.

Combater o capacitismo do jornalismo é mais do que incluir. É usar a informação como rompedora das desigualdades sociais.