CONHEÇA A HISTÓRIA DE UMA ENFERMEIRA COM SEQUELA DE POLIOMIELITE

Hoje esse post vem com direito a bolo, brigadeiro e vela para apagar afinal de contas hoje é o dia do aniversário da nossa homenageada. Então vamos aplaudir a enfermeira Ruth de Mendonça Nepomuceno apresenta sequela de poliomielite em membros inferiores com predominância no direito desde os 9 meses de idade.

POLIOMIELITE - CASADAPTADA

Como foi sua infância e adolescência?

Era bem adaptada com minha sequela e tive uma infância bem perto da normalidade, tinha uma irmã um ano mais nova muito protetora e participava das brincadeiras junto das outras crianças da minha rua. Estudei o antigo primário em uma escola do bairro e fui a melhor aluna da classe o que me conferia certo prestigio porque era incluída em todas as cerimônias escolares.

Qual seu nível de instrução escolar? Fale um pouco de como foi sua vida escolar e acadêmica?

RUTH DE MENDONÇA NEPOMUCENO- DEFICIENCIASou enfermeira graduada pela Universidade Federal Fluminense. Conclui o ensino médio em uma escola estadual. Durante esta fase passei meio que invisível, era dispensada das aulas de educação física e não participava das comemorações escolares que envolviam jogos ou danças. Me sentia isolada, a entrada na adolescência não foi fácil, meu desempenho escolar era apenas bom.

Enfrentou ou enfrenta dificuldades no trabalho ou no mercado de trabalho? Quais?

Trabalho desde 1982, não senti dificuldades para entrar no mercado porque sempre o fiz através de concursos públicos. Sei, com absoluta certeza, que através de indicações ou convites seria muito difícil.

 RUTH DE MENDONÇA NEPOMUCENO-CASADAPTADAComo é sua relação com os demais colegas de trabalho?

A primeira impressão que sinto no olhar dos colegas é a desconfiança. Será que ela é capaz de exercer as atividades inerentes da profissão? Conforme minha própria confiança aumentava a desconfiança alheia diminuía.

Onde você trabalha?

Hoje trabalho no Ministério da Saúde em um hospital municipalizado em Nova Iguaçu. Não exerço mais a assistência por complicações tardias da pólio que me causaram sérias limitações física, então desenvolvo outras atividades.

Para você como é ser mulher com deficiência num país, cujo padrão de beleza é o da barbie (que é ser magra, alta, peituda, saudável, jovem, loira e ter um corpo “perfeito”)?

Acredito que hoje é socialmente melhor do que na minha juventude. Tinha um enorme receio da rejeição e não retribuía olhares de paquera até que pudesse mostrar ao menino minha deficiência. Em barzinho ou festas sempre circulava para que todos vissem minha marcha.

Hoje a mulher portadora de deficiência é melhor aceita até porque em sua maioria são vítimas de acidentes, violência urbana, etc. Seus corpos visualmente permanecem iguais mas na imobilidade. Vítimas de doenças que modificam nossa imagem, como eu, tem sempre uma atenção do outro que pode ser constrangedora.

RUTH DE MENDONÇA NEPOMUCENO- poliomieliteComo você cuida da beleza?

Frequento clinicas de estética, salões de beleza sem grandes dificuldades.

E quando o assunto é a sexualidade das mulheres com deficiência, ainda existem muitos empecilhos? Quais?

 

Existe sim. Às vezes as pessoas pensam que somos mais espiritualizadas e menos carnais. As vezes que seremos incapazes de atrairmos um parceiro e até aqueles que pensam que não temos prazer sexual.

A confusão ainda é grande. A informação poderia melhorar, mas a sociedade dos corpos perfeitos induzem ao pensamento que somente com aquela aparência teremos direito ao sexo e ao  prazer. Para mim sempre foi complicado os primeiros: o primeiro beijo, a primeira nudez, o primeiro ato sexual.

No tocante a saúde da mulher com deficiência, os consultórios ginecológicos estão preparados para nos receber?

Como enfermeira posso afirmar que os serviços de saúde não estão preparados para a usuária deficiente e nem os profissionais estão. Tenho dificuldade pra fazer mamografia, uma vez pedi para realizar sentada e não foi possível, quando perguntei como procedia com uma cadeirante me responderam que nunca haviam recebido uma.

Que recado você deixa para nossos gestores e para a sociedade em geral, incluindo os que visitam a Casadaptada?

Diria o b, a;ba, : Que a sociedade inclusiva é uma estratégia de justiça para todos. Que a informação é imprescindível e que os portadores de deficiência precisam sair das áreas de conforto para que todos saibam que existimos

 MULHER - POLIOMIELITE

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