Até os 35 anos de idade, o americano Trevor Thomas era viciado em adrenalina. Esqui, corrida, ciclismo em trilhas difíceis, paraquedismo. Até que, em 2005, recebeu o diagnóstico de uma rara doença incurável nos olhos. Em oito meses, ficou cego.

Para alguém com tanta autonomia, “a perda de independência e de autoestima foi devastadora”, avalia. Depois de lutar contra uma depressão, Trevor decidiu agir.

“Um amigo recomendou caminhadas em montanhas como uma maneira de recuperar um pouco da minha independência, algo que eu nunca teria considerado na minha vida como vidente – por serem muito benignas e pouco emocionantes –, mas, pelo menos era algo que eu poderia fazer”, destaca ele em seu site.

O primeiro desafio foi a Appalachian Trail, uma rota com 3.500 km no leste dos Estados Unidos. “Minha família pensou que eu tinha perdido a cabeça juntamente com a visão”, sinaliza Trevor.

Os primeiros desafios começaram não na trilha em si, mas no material que leva a ela: mapas, guias e livros não estavam disponíveis em versões que ele poderia ler. Mas a pessoa que providenciava o equipamento de Trevor se ofereceu para ajudá-lo, e os dois passaram meses nos preparativos – montando e desmontando barraca, usando o fogão e manuseando o filtro de água.

Trevor fez a maior parte da caminhada pelas montanhas sozinho. Quando sentia que estava perdido, tocava as placas para saber onde estavam abrigo e água. Se ele ficava inseguro, esperava outras pessoas e perguntava a direção.

Fez o Appalachian Trail e tentou o Pacific Crest Trail, que tem 4.260 km e corta os Estados Unidos do México ao Canadá. Mas descobriu que não poderia concluí-lo sozinho e fundou a Team FarSight, que reunia parceiros de caminhada em trechos que seriam impossíveis de serem completados sem ajuda. Assim, Trevor terminou o percurso, com a marca de 78 quedas e nenhum machucado significativo.

Mas, em 2011, ele teve um problema: um parceiro que deveria acompanhá-lo em parte do percurso de Colorado Trail, uma trilha de 782 km, não apareceu. Foi então que ele teve a ideia de ter um cão guia.

Em setembro de 2012, Thomas passou a contar com Tennille, a primeira cadela treinada para fazer trilhas de longa distância. Juntos, eles percorreram boa parte dos Estados Unidos, como Greyson Highlands (Virgínia), South Mountain (Carolina do Norte), Mount Tam (Norte da Califórnia), Monte Rogers (Virgínia) e Sea Trail (NC), entre outros.

Hoje, aos 46 anos, ele comemora a parceria no trekking e na vida. “Eu sou o cara que tem o panorama geral. Tenho o conhecimento de para onde estamos indo e o que estamos procurando. Ela é a garota dos detalhes. Ela preenche as lacunas para mim”, disse ele ao “Daily Camera”.

E completa: “Entre nós dois, nós encontramos o que procuramos. Então sabemos onde estamos e seguimos adiante”.

Por QSocial