O estudante Bruno Nogueira foi educado “solto no mundo”, como ele diz, e jamais permitiu que as diferenças em seu corpo definissem quem é. Bruno tem a Síndrome de Hanhart, que impede o desenvolvimento de braços e pernas.
 
Quando não está na sala de aula do curso de administração da Universidade Anhanguera , em Santo André, no ABC Paulista, o jovem de 22 anos pode ser encontrado surfando em alguma praia, pendurado na encosta de uma montanha ou descobrindo novas trilhas pelo País.
 
Em 2015, ele começou a relatar essas andanças no blog ‘Guerreiro de Fibra’. E já ministra algumas palestras. “Temos uma boa regularidade de acessos e bons feedbacks sobre as reflexões. Destaco sempre que não há obstáculo, por maior que seja, que não possa ser superado, e que a vida começa a partir do momento em que você entende a situação real das coisas”, diz Bruno.
 
Ele gosta dos esportes radicais, que envolvem adrenalina, como surf adaptado, rapel e trilhas, mas descarta o rótulo de ‘exemplo de superação’ e prefere destacar sua trajetória.
 
“A pessoa com deficiência não tem superpoderes e encontra as mesmas dificuldades, desafios e barreiras para o crescimento. Em alguns casos, essas barreiras serão maiores. O sucesso não tem base somente em superação e sorte, mas em muita competência e resiliência”, afirma o estudante.
 
Para Bruno, ainda é nítida a defasagem do Brasil no que diz respeito a acessibilidade, inclusão e direitos. “É estranho falar em ‘inclusão’, sendo que 25% da população nacional tem algum tipo de deficiência”, comenta.
 
E se os direitos da pessoa com deficiência são constantemente desrespeitados, criminalizar exclusão e discriminação ajuda a mudar essa realidade? “Concordo com a punição para crimes de discriminação. O Brasil é um país culturalmente preconceituoso, não somente com as pessoas com deficiência”.
 
 
Da mesma forma que milhares de estudantes universitários, Bruno se prepara para enfrentar busca por uma colocação no mercado de trabalho. Para pessoas com deficiência, essa maratona pode ser muito mais difícil. Diferentemente do que parece ser um consenso, ter deficiência não é uma vantagem na batalha por emprego. E a chamada ‘lei de cotas’ (nº 8.213/1991) é uma aliada, mas exige do empregador, do gestor, do empresário, uma reavaliação dos próprios valores e dos procedimentos na empresa.
 
A dificuldade está no processo cultural e no paradigmas que precisam ser quebrados, tanto para as empresas, quanto para as pessoas com deficiência. É encaixar a pessoa certa na ocupação e potencial certos, é deixar claro que a pessoa com deficiência é sim substituível no mercado de trabalho”, defende Bruno.
 
“O processo de inclusão é rico e contribui para o crescimento social e organizacional das empresas, algo que não é percebido atualmente na maioria das organizações”, finaliza o estudante.
 
Bruno relata suas andanças no blog ‘Guerreiro de Fibra’ (clique aqui).