Diogo Ratacheski começou no triatlo após acidente que o deixou sem andar, e movido pelas “cadeiras amigas” coleciona conquistas e segue buscando novos objetivos. Para ele, Kona é logo ali
 
Por Renata Domingues, Rio de Janeiro
 
Sem precisar
 
Ser um ironman não é para qualquer um. Nadar 3,8km, pedalar 180km e depois ainda correr 42km parece impossível para a maioria dos “mortais”. Não para Diogo Ratacheski. Aos 34 anos, ele convive com uma lesão na 12ª vértebra torácica há 10 anos. Nada que o impeça de ter uma vida normal e seguir atrás de seus objetivos, que de “normais” não têm nada. Os próximos já estão traçados. Primeiro, ele vai para o Ironman Florianópolis, no dia 28 de maio. Depois, quer ser o primeiro cadeirante a disputar o Mundial de Kona, no Havaí 
 
(Click AQUI e veja o vídeo que ele fez para se candidatar a uma vaga).
 
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Paratriatleta, Diogo Ratacheski se prepara para o Ironman de Floripa
 
A história de Diogo com o triatlo começou após o acidente de carro que sofreu há 10 anos. Ele dormia no banco de trás, no Balneário Camboriú, em Santa Catarina. O amigo que dirigia dormiu também. Diogo só foi acordar 21 dias depois e, do acidente, só sabe o que lhe contaram. Até então atleta profissional de escalada, ele ouviu dos médicos que o fato de sempre ter sido ligado ao esporte o salvou. Foram vários processos cirúrgicos e meses dedicados à reabilitação. A vontade de voltar a andar o movia. Até que ele entendeu que não era isso o que ele precisava para seguir em frente e ser feliz.
 
Diogo era atleta profissional de escalada antes do acidente (Foto: Arquivo pessoal)
Diogo era atleta profissional de escalada antes do acidente (Foto: Arquivo pessoal)
 
Me dediquei à fisioterapia como se fossem meus treinos de escalada. Tive muitos resultados, mas as melhoras pararam de acontecer e entendi naquele momento que eu não precisava andar para ser feliz, precisava retomar a minha vida – contou.
 
E foi o que ele fez. A primeira decisão foi voltar à faculdade de geologia. Mesmo sendo um curso onde há muito trabalho de campo, ele não se intimidou. Diploma na mão, abriu a própria empresa e hoje trabalha na profissão que escolheu, sendo o único cadeirante formado geólogo no Brasil.
 
O passo seguinte foi voltar para o esporte, sua grande paixão (Click AQUI e assista ao vídeo).
 
Comecei a escalar e surfar com 12 anos de idade. O esporte sempre foi meu oxigênio.
 
Mas escalar em novas condições não foi como ele esperava…
 
Conheça Diogo Ratachesk, paratriatleta, candidato a Ironman
 
Entendi que a escalada não fazia parte do meu contexto atual, só no braço, exige muita força.
 
E foi aí que a corrida entrou na vida de Diogo. As primeiras provas foram feitas com uma cadeira de rodas comum, de uso diário. E, mesmo assim, os resultados foram surpreendentes.
 
Primeiras corridas de Diogo foram feitas com cadeira de rodas comum (Foto: Arquivo pessoal)
Primeiras corridas de Diogo foram feitas com cadeira de rodas comum (Foto: Arquivo pessoal)
 
A primeira corrida que fiz, faz uns três anos. Era uma prova de 10km, com cadeira normal e cheguei. A partir daí, fiz meia maratona, e depois, uma maratona em 3h59. Depois outra maratona…
 
Diogo se encontrou na corrida. Mas a medida que ia melhorando seus tempos e evoluindo, sentiu que precisava de algo a mais. Então, influenciado por um amigo, descobriu o triatlo.
 
Como eu surfava antes, estava acostumado com a água, o Augusto, um amigo triatleta, disse que eu tinha que fazer triatlo. Eu escutei ele, mas não acreditava que seria possível. Um dia, na meia maratona de Curitiba, conheci a Vanusa Maciel, que é hoje minha treinadora, vice-campeã mundial de ultraman no Havaí. Na corrida, ela me ofereceu ajuda e eu não quis. Mas na terceira vez que ela veio, eu aceitei. Depois comecei a rodar as academias atrás de alguém com interesse em me treinar, e fui para a academia do Gustavo Borges. Dei de cara com a Vanusa. Isso um ano depois. Comecei a treinar com ela e não parei mais.
 
Natação foi o último esporte a entrar na vida de Diogo (Foto: Arquivo pessoal)
Natação foi o último esporte a entrar na vida de Diogo (Foto: Arquivo pessoal)
 
Da parceria com Vanusa veio a primeira prova de triatlo, com a menor distância, a Sprint, ou seja, 750m de natação, 20km de bike e 5km de corrida. Daí, ele foi ousado e já pulou para o Ironman 70.3, o meio Iron (1,9km no mar, 90km de ciclismo e 21km de corrida), sendo o primeiro cadeirante a completar a etapa de Itaipu, na divisa entre Brasil e Paraguai.
 
Para as provas de ciclismo e corrida, Diogo utiliza duas cadeiras diferentes. A chamada handbike é um triciclo com marcha, como uma bicicleta comum em que a pessoa pedala com a mão. A cadeira de corrida, é uma cadeira de rodas com uma roda a mais na frente. Para consegui-las, o geólogo contou com o apoio de sua equipe de treinos, de amigos e fez até uma vaquinha na internet.
 
A cadeira achei uma usada e reformei. Hoje ela está em condições. Não tenho o equipamento ideal, mas tenho um equipamento – comemora.
 
Pedalar com as mãos exige muita força nos braços do paratriatleta (Foto: Arquivo pessoal)
Pedalar com as mãos exige muita força nos braços do paratriatleta (Foto: Arquivo pessoal)
 
E a handbike deu um susto enorme em Diogo dia desses. Em um treino, o garfo quebrou e ele chegou a temer o pior. A 60km/h ficou sem freios e com o guidão nas mãos.
 
Realmente fiquei com muito medo do que poderia ter acontecido. Fiquei feliz que não tive problemas maiores, mas poderia ter acontecido uma tragédia.
 
E quem pensa que nadar sem o auxílio das pernas é a maior dificuldade de Diogo, se engana. A bicicleta é onde ele acredita que irá “sofrer” mais no Ironman.
 
A handbike é o mais difícil. No Iron com certeza a bike vai ser o pior, chega uma hora que os braços pesam – observou.
 
E para nadar, pedalar e correr com a força de seus braços, Diogo treina pesado diariamente, duas vezes por dia. Ele nada, pedala, corre e faz funcional. Os treinos são adaptados a sua condição de paratleta. Às 5h da manhã, ele já está de pé. Às 7h, no escritório. Na hora do almoço, pausa no trabalho para a primeira sessão de treinos. No fim da tarde, mais uma. E tudo isso ele faz de forma totalmente independente. Vai de carro, dirige, monta seu equipamento.
 
Ou seja, fora o fato de ser triatleta e ironman, Diogo leva uma vida completamente normal. É casado com Alexandra, que também corre e nadou com ele no Iron 70.3, autorizada pela organização. E é justamente isso que ele quer passar com sua história para as outras pessoas. Ele não precisa de força nas pernas para ser feliz, mas sim de força na mente, nos pulmões e no coração. E isso, Diogo tem de sobra.
 
A mensagem que gosto de passar é que a cadeira de rodas para mim é só um meio de transporte que me leva de um lado para o outro. Gosto de mostrar isso através das minhas atitudes. Sou geólogo, casado, vou fazer um Ironman e sou cadeirante. Entendi que não preciso andar para ser feliz. A cadeira de roda me auxilia, é uma “amiga” que me leva para um lado e para o outro. Minha vida é normal, não é diferente da sua. Sou independente, é isso é que eu gosto de mostrar.
 
Falou tudo.
 
Depois do Iron 70.3, o Ironman completo é a meta do curitibano (Foto: Arquivo pessoal)
Depois do Iron 70.3, o Ironman completo é a meta do curitibano (Foto: Arquivo pessoal)