Mariângela, 26 anos, é mãe de Maria Isabel, 1 e 9 meses. Ela descobriu a condição da filha após o nascimento e conta que, com ela, aprendeu a amar mais e melhor
 
Por Depoimento a Andrezza Duarte
 
Maria Isabel, 1 ano e 9 meses (Foto: Acervo pessoal)
Maria Isabel, 1 ano e 9 meses (Foto: Acervo pessoal)
 
“Descobrimos que nossa princesa tinha síndrome de Down no dia seguinte ao seu nascimento. Maria nasceu em uma sexta-feira, dia 12/6 (Dia dos Namorados). Foi um parto rápido e às pressas, pois, com 36 semanas, eu já não tinha mais líquido amniótico, portanto, adiantamos sua chegada. Nasceu bem, chorou, abriu os olhos e até nos presenteou com o que parecia um sorriso.
 
Esperávamos nossa bebê no quarto que dividíamos com outro casal, cujo bebê havia nascido junto com a Maria. O bebê do casal logo chegou, mas nossa filha, não. Preocupados, questionamos algumas enfermeiras, mas não tivemos notícia. Às 7h, a pediatra que acompanhou o parto entrou no quarto e disse: “Bom dia! A filha de vocês está ótima! Como ela é muito pequena, a deixamos em observação até fazer alguns exames. Ah, ela tem traços de alguma síndrome, tem um probleminha no coração e nós ainda não conseguimos resposta do exame do ouvido. Mas ela está bem e daqui a algumas horas ela poderá vir ao quarto”. E saiu.
 
Eu e o meu marido ficamos sem entender nada – e apavorados. Assim que conseguimos quebrar o silêncio, falamos um ao outro: “Você entendeu? Tá tudo bem? Vamos fazer o possível para que tudo fique bem. Já amamos nossa pequena e nada vai mudar nosso amor.” Senti como se eu tivesse montado um grande quebra-cabeças durante toda a minha gestação e, quando fomos ao hospital para finalmente receber nossa filha nos braços, emoldurei esse quebra-cabeças. Mas ao receber a notícia, foi como se o quebra-cabeças tivesse quebrado nas minhas mãos. Afinal, foi um susto imenso, pois o pré-natal não acusou qualquer problema.
 
Não foi fácil: quando se engravida, não se gera apenas um bebê, geram-se sonhos e desejos, criam-se expectativas. Quando alguma coisa foge do esperado, nos frustramos. Foi o que aconteceu quando soubemos da condição de Maria Isabel: ficamos de luto por alguns dias. De luto por nossos sonhos e expectativas. E foi importante para chorar, sofrer, cair no chão, chorar horrores. Mas, depois, a gente levantou o rosto e enxergou aquele ser magnífico e perfeito à sua maneira. E pudemos dizer, de coração, “Eu te amo”. E foi o “Eu te amo” mais sincero do mundo. Esse amor nos fez transformar uma notícia “ruim” em uma maravilhosa! Sim, ela tem uma deficiência, mas nós também temos as nossas. A diferença é que a dela tem comprovação médica – a nossa ainda não descobrimos.
 
Maria Isabel com o irmão, Pedro Miguel, de 5 (Foto: Acervo pessoal)
Maria Isabel com o irmão, Pedro Miguel, de 5 (Foto: Acervo pessoal)
 
Acredito que o maior desafio de ter um filho com síndrome de Down é desconstruir o preconceito das pessoas. É fazê-las entender que, sim, é uma criação desgastante e corrida, com terapias e consultas médicas. Ao mesmo tempo, fazê-las entender que, apesar de tudo isso, somos felizes e mais completos. É comum ouvir os pais dizerem que queriam que o tempo passasse mais devagar, que desejariam que seu filho fosse pequeno por um período mais longo. Tenho esse privilégio, de ter uma filha pequena por mais tempo. O que não me impede de curtir cada conquista como se fosse uma medalha de ouro nas Olimpíadas.
 
Com Maria Isabel, eu aprendi a dar valor aos mínimos detalhes. Sou mais paciente, mais compreensiva, aproveito mais o tempo com meus filhos, sorrio mais, amo mais e amo melhor. Hoje, vivo como jamais vivi. Vivo como todas as mães deveriam viver e experimento todos os sentimentos que uma mãe deveria sentir, mas que só pude ter quando Maria Isabel chegou para mudar a nossa dinâmica. Quando nasce uma criança com síndrome de Down, nasce também uma família. É como se tivéssemos o prazer de acolher um anjo em nossa casa. Um anjo que nos ensina a amar, a sorrir, a chorar, a compreender, a ter paciencia, a acreditar, a perseverar… A viver!”
 
A família de Maria Isabel (Foto: Acervo pessoal)
“Hoje vivo como jamais vivi. Vivo como todas as mães deveriam viver e experimento todos os sentimentos que uma mãe deveria sentir” (Foto: Acervo pessoal)
 
Mariângela dos Santos, 26 anos, esposa de Rodrigo, 33, mãe de Maria Isabel, 1 e 9 meses, e Pedro Miguel, 5