Em cartaz, drama aborda de forma sensível os desafios de quem convive com o transtorno
 
Cena de 'Po' (Foto: Divulgação)
Cena de ‘Po’ (Foto: Divulgação)
 
Por Juliana Malacarne
 
No cinema, o autismo é muitas vezes retratado através de estereótipos, como o gênio e o antissocial, mas o filme ‘Po’, que estreou nesta quinta (22), tenta fugir deles para oferecer uma perspectiva mais ampla de quem convive com o transtorno de desenvolvimento. O relacionamento entre um pai solo e seu filho autista e as dificuldades que enfrentam no dia a dia estão no centro do drama.
 
No longa, o pai, David (Christopher Gorham), cuida sozinho do filho Patrick (interpretado com precisão pelo jovem Julian Feder) desde a morte de sua esposa, e tenta conciliar as necessidades especiais do garoto, como  sessões de fisioterapia e dieta restrita, com as demandas do trabalho. Já o menino, que prefere ser chamado de Po, é retratado como uma criança inteligente, apesar de suas dificuldades para se comunicar, que recorre a um universo imaginário para lidar com problemas da vida real. A dura rotina acaba cobrando seu preço sobre o relacionamento entre pai e filho e os dois precisarão encontrar uma maneira de se reconectar antes que seja tarde.
 
Os melhores momentos de ‘Po’ são os que mostram o dia a dia de sua dupla de protagonistas de uma maneira quase documental, como uma cena em que David perde a paciência com o menino que insiste em repetir palavras aparentemente sem sentido e os confrontos entre o pai e a diretora da escola que acredita que a convivência com os colegas típicos não está ajudando no desenvolvimento do garoto. Essas sequências parecem reais e dão ao espectador a oportunidade de ver de dentro como é a rotina de uma família que lida com o transtorno. O longa também tem a virtude de oferecer, através das falas de personagens especialistas, como um psicólogo e uma terapeuta, informações esclarecedoras sobre o autismo sem cair no didatismo.
 
Já quando o filme sai do registro mais realista, encontra algumas limitações. As situações criadas pela imaginação de Po, por exemplo, não tem o peso dramático do que o personagem enfrenta na sua rotina e acabam criando uma quebra de ritmo que atrapalha a história. O longa peca também ao querer condensar uma realidade extremamente complexa e cheia de nuances em uma narrativa cinematográfica clássica. Provavelmente seria muito mais proveitoso deixar alguns aspectos do relacionamento entre pai e filho e do desenvolvimento do menino em aberto ao invés de dar-lhes um final feliz.
 
Mesmo assim, as falhas do filme não são maiores do que suas qualidade. ‘Po’ prende a atenção do expectador e oferece uma perspectiva diferente do que geralmente é visto no cinema sobre o autismo. Uma boa pedida tanto para quem conhece alguém com o transtorno quanto para quem quer saber mais sobre ele.
 
Assista ao trailer: