Quando a competição sob os holofotes são os Jogos Parapan-Americanos, o Brasil é absoluto no quadro de medalhas. Tem sido assim desde o Parapan do Rio de Janeiro, em 2007. E para reforçar a manutenção dessa escrita, o país levará para Lima, capital do Peru, uma delegação recorde. A partir desta sexta-feira, 512 integrantes da missão brasileira estarão focados no objetivo de conquistar pela quarta vez seguida o topo do quatro de medalhas.

Desses 512 integrantes, 337 são atletas, entre os quais atletas-guias, calheiros, goleiros e pilotos, que não possuem deficiência, de 23 estados (além do Distrito Federal) e 17 modalidades. Um número pra lá de expressivo, e que representa um acréscimo de 24% em relação ao time que ostentou o pavilhão nacional na última edição do Parapan, na cidade de Toronto, no Canadá, em 2015. Na cidade canadense, o Brasil conquistou 257 medalhas, das quais, 109 de ouro, 74 de prata e 74 de bronze.

O Brasil nos Jogos Parapan-Americanos

Ano Sede Ouro Prata Bonze Posição
1999 Cidade do México – MEX 92 55 33
2003 Mar Del Plata – ARG 80 53 31
2007 Rio de Janeiro – BRA 83 68 77
2011 Guadalajara – MEX 81 61 55
2015 Toronto – CAN 109 74 74

Desde 2007, quando a competição passou a ser realizada na mesma sede dos Jogos Pan-Americanos (tal qual ocorre nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos), o Brasil não conhece outro resultado que não o primeiro lugar no quadro geral de medalhas. Foi assim na Rio 2007, em Guadalajara 2011 e Toronto 2015. Em Lima, a principal meta da delegação brasileira é manter essa bela escrita. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado, reconhece no entanto, que a missão será duríssima e lista as principais ameaças no caminho.

– É uma meta ousada, pois teremos pela frente países como Estados Unidos, México, Canadá, Cuba e Colômbia, que também têm um trabalho muito bem consolidado no esporte paralímpico. Mas seguimos confiantes de que este objetivo será atingido e daremos uma demonstração de estarmos no caminho certo rumo aos Jogos de Tóquio 2020 – disse Mizael ao GloboEsporte.com.

Delegação brasileira acompanha hasteamento da bandeira no Parapan de Toronto, em 2015 — Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro

Delegação brasileira acompanha hasteamento da bandeira no Parapan de Toronto, em 2015 — Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro

Organização e planejamento explicam o status de potência

Tamanho sucesso não é mero acaso. É fruto da constante evolução e organização do paradesporto brasileiro. Planejamento, boa gestão de recursos e investimento em jovens talentos são alguns dos pilares que sustentam o excelente desempenho brasileiro no quadro de medalhas. Nesse processo, Mizael Conrado reforça a importância do trabalho a longo prazo e vê no Parapan uma forma de mapear ajustes necessários para Tóquio.

– Os frutos desta organização são colhidos no âmbito esportivo. O Parapan sempre foi um termômetro muito importante para o CPB, já que acontece no ano que antecede os Jogos Paralímpicos. Estaremos em Lima com nossa força máxima e poderemos ter uma boa ideia de onde estamos e o que ainda precisamos ajustar – reiterou o presidente do CPB.

Alberto Martins, chefe da missão brasileira em Lima, também ressaltou a importância do planejamento estratégico, e comentou o fato de a presidente do Comitê Peruano, Lucha Villar, ter rasgado elogios recentemente ao trabalho feito no Brasil. Por ser uma referência no continente, o CPB tem parceria com países como Chile, Peru, Equador e Argentina.

– O Brasil realmente buscou nos últimos anos se organizar, se planejar, porque a gente acredita que o sucesso dos atletas está também no planejamento, está também na administração e na estratégia administrativa. Isso faz parte da preparação de uma delegação. E logicamente quando a Lucha fala dessa parceria, a nossa intenção é que a região cresça. Porque se a região crescer, o Brasil também cresce. Isso ocorre na Europa – analisou Alberto Martins.

Investimento em jovens talentos

Jovens talentos podem ser garimpados pelo Comitê Paralímpico Brasileiro graças ao desenvolvimento de eventos como as Paralimpíadas Escolares, que acontecem desde 2009. Anualmente são cerca de mil atletas entre 12 e 17 anos na vitrine. A competição já revelou nomes como os velocistas Alan Fonteles, ouro em Londres 2012, e Verônica Hipólito, prata na Rio 2016; e Petrúcio Ferreira, recordista mundial nos 100m (classe T47).

Desde maio de 2016, jovens de destaque podem contar com uma estrutura ainda mais sólida. Naquele ano, foi aberto o Centro de Treinamento Paralímpico, um espaço com 95 mil metros quadrados que abriga e desenvolve atletas de 15 modalidades. A intenção é fazer com que isso se expanda. O CPB pretende capacitar até 2025, 100 mil professores de educação física nas escolas. O foco é descentralizar, fazer com que essa estrutura vá além do CT em São Paulo.

– Hoje nós temos um centro de formação aqui no CPB que tem mais de 400 crianças em várias modalidades. Queremos completar até o final do ano 10 centros de referência pelo Brasil, porque não adianta ter só um centro de treinamento, apesar dessa qualidade, num país continental – completou Alberto.

O velocista Petrúcio Ferreira é uma das estrelas do Brasil reveladas nas Paralimpíadas escolares — Foto: Daniel Zappe/MPIX

O velocista Petrúcio Ferreira é uma das estrelas do Brasil reveladas nas Paralimpíadas escolares — Foto: Daniel Zappe/MPIX

Olho no Top 10 de Tóquio 2020

A meta da delegação brasileira de manter a hegemonia no quadro de medalhas de Lima se mostra ousada e tem tudo para ser batida. Em relação aos dois próximos Jogos Paralímpicos, o objetivo também é o de manter um patamar conquistado somente após Atenas 2004. Em Pequim 2008, pela primeira vez o Brasil terminou a competição entre os dez melhores. O Top 10 foi alcançado também em Londres 2012 e na Rio 2016.

– Em nosso Planejamento Estratégico 2017-2024, estabelecemos a permanência no Top 10 do quadro geral de medalhas como a meta tanto para Tóquio 2020 quanto para Paris 2024. Acreditamos no trabalho que tem sido feito desde os Jogos do Rio 2016, e que ele nos coloca em boa posição para atingir esses indicadores – explicou Mizael Conrado.

Lima 2019: novas modalidades e vagas para 2020

A edição 2019 do Parapan vai marcar a inclusão de três novas modalidades: parabadminton, parataekwondo e tiro esportivo. Lima também dará vaga direta para os Jogos Paralímpicos de Tóquio em sete modalidades. Outras quatro modalidades contarão pontos para o ranking, e o atletismo, assim como a natação, darão índices para 2020. Fique por dentro de alguns números do Parapan no Peru.

Números do Parapan de Lima

  • Lima 2019 promete organizar a mais grandiosa edição de todos os tempos, com a participação de aproximadamente 1.890 atletas, de 33 países, em 17 modalidades: atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, ciclismo, futebol de 5, futebol de 7, goalball, halterofilismo, judô, natação, rúgbi em cadeira de rodas, parabadminton, parataekwondo, tênis em cadeira de rodas, tênis de mesa, tiro esportivo e voleibol sentado.
  • Dentre os atletas que irão a Lima, 77% da delegação que representará o Brasil tem alguma deficiência física. A segunda deficiência predominante é a visual, com 22%, seguida da intelectual (1%).
  • O Time Brasil é composto por 22 atletas que não possuem deficiência: atletas-guia (atletismo), calheiros (bocha), pilotos (ciclismo) e goleiros (futebol de 5). A delegação ainda conta com 197 pessoas da comissão técnica e equipe médica.
  • O time feminino representa 38% da delegação, e representa a totalidade de vagas disponíveis por Lima 2019 para as mulheres. Em Lima 2019, 21% da equipe será composta por jovens com até 23 anos, marca que já superou o planejamento para os Jogos de Tóquio 2020, de 15%.
  • Ao todo, 25% dos atletas com deficiência física são de classes baixas, aquelas em que estão compreendidos os desportistas com maior grau de comprometimento físico-motor. Com esta marca, o CPB supera o objetivo de 12% estabelecida para os Jogos Parapan-Americanos de 2023, em Santiago, Chile.
  • São Paulo é o estado com o maior número de representantes, 101 atletas. Seguido do Rio de Janeiro com 35, Paraná com 28 esportistas e Minas Gerais com 26.

Source: Planejamento e garimpo de talentos: os trunfos por trás da hegemonia brasileira no Parapan | parapan | Globoesporte