#PraTodosVerem: Na foto está a personagem principal do filme “O Poço”, em destaque está Goreng, um dos personagens principais, um homem branco com cabelo na altura do pescoço e cavanhaque, tem pele branca e expressão de cansaço, o cabelo é castanho claro. Veste um macacão amarelo escuro. Ao fundo está a plataforma de comida com uma mulher sentada sobre ela. Fim da descrição. Foto: Netflix/Divulgação.

Um dos filmes mais falados do momento é “O Poço” da Netflix, filme que oferece uma forte crítica social sobre a construção da sociedade e o que isso pode nos trazer. “O Poço”, é espanhol, e que mais uma vez alavanca a força da produção audiovisual deste país que tem emplacado sucessos na Netflix como “La Casa de Papel”.

No entanto, “O Poço” trata de uma questão vital, a construção da sociedade, ou seja, a prisão é vertical, um buraco profundo que muitos não sabem se tem ou não fim. A grande sacada está na plataforma, já que nos primeiros andares tem fartura e nos últimos apenas restos ou simplesmente nada.

É importante entender que a prisão vertical representa a distribuição da riqueza na sociedade, ou seja, os de cima tem muito e os debaixo nada. Além disso, cada personagem tem um papel na trama, e são norteadas por sentimentos como individualismo, falta de compaixão e conformismo, afinal alguns acreditam que as coisas simplesmente são assim e nunca vão mudar.

Os personagens também tem uma importância para entender a pirâmide social, Trimagasi, representa a alienação por meio do consumismo, Goreng é a justiça social e o conhecimento está simbolizado no livro, o caos social está representado pela violência explicitada como a única forma de sobreviver ali. Imoguri trabalha na administração e representa o governo, e acredita que o lugar funciona dentro do ponto de vista teórico.

Baharat simboliza a questão racial e a vontade de mudança, visto que tenta “subir” para andares superiores, mas como depende do apoio dos outros, fracassa. E ao descer para entregar a comida para todos, a ação tem boas intenções, mas acaba em violência, ou seja, é assim que nascem os tiranos.

As pessoas com deficiência

Até ai parecia que era apenas mais um filme com uma crítica social, no entanto, ao começarem a descer, mais ou menos pelo nível 20 eles encontram um homem cadeirante e negro, que questiona Baharat se usar a violência é a melhor forma para convencer as pessoas, e diz “não foi assim que te ensinei, vocês precisam passar uma mensagem”.

Então eles mudam a estratégia, que funciona em partes, até que no nível 96 novamente uma pessoa com deficiência entra em cena, um jovem com Síndrome de Down que diz mais ou menos o seguinte “depois que vocês irem embora, vou matar ele e comer a comida que tiver dentro dele”.

Nos dois casos há uma importante representação, pois as duas pessoas com deficiência não são representadas de formas capacitistas, ou seja, há uma representação social sem preconceitos. Se trouxermos isso para a realidade brasileira entendemos que é comum ter pessoas com deficiência presas. Segundo dados do Ministério da Justiça divulgados em 2018, existem cerca de 1,5 mil pessoas com deficiências presas, e a maioria dos presídios não possuem acessibilidade.

No caso do jovem com Down, o fato dele ter apresentado um pensamento racional “vou matar ele e comer a comida que tiver dentro dele”, por mais macabro que seja, abandona a ideia de coitadismo e incapacidade de raciocínio que alguns tem a respeito da deficiência intelectual.

A mensagem final do filme cabe perfeitamente ao universo da pessoa com deficiência, muitos de nós se comportam como opressor ou oprimido. Além disso, cabe a nós um exercício de autocrítica e existencialismo para que possamos vencer as barreiras físicas e ideológicas que nos impedem de alcançar a verdadeira inclusão.

FONTE: O POÇO E AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA – Deficiência em Foco