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Um ano e dois meses depois do acidente que a deixou em uma cadeira de rodas, a ex-atleta Laís Souza já conquistou algumas pequenas vitórias no longo caminho que é sua recuperação. Submetida a um tratamento com células-tronco, a paulista de Ribeirão Preto já respira sem a ajuda de aparelhos e se recupera em casa, ao lado da família. Apesar das dificuldades, Laís não tem dúvidas de que vai recuperar os movimentos.

“Meu quadro era desolador. Quebrei o pescoço e lesionei a terceira vértebra (C3) da coluna cervical que, além de quebrar, sofreu deslocamento e comprimiu as debaixo. Fora a lesão medular completa. E assim a vida seguiu: foram seis meses de hospital, entre crises de choro e de revolta, mas resolvi me focar nas minivitórias. A primeira foi respirar sem aparelhos. Como o impacto na medula tinha feito meu diafragma parar de funcionar, tive que fortalecê-lo”, afirmou a ex-ginasta em entrevista à revista Glamour . “E tenho certeza de que vou voltar a andar”, garantiu.

Depois de disputar as Olimpíadas de Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012 como ginasta, Laís começou a se preparar para representar o Brasil no esqui aéreo nas Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia.No dia 27 de janeiro de 2014, enquanto se treinava a modalidade em Salt Lake City, nos Estados Unidos, Laís se chocou com uma árvore. A ex-ginasta estava acompanhada da amiga Josi Santos e pelo treinador Ryan Snow e foi prontamente atendida, o que salvou sua vida, mas a deixou tetraplégica.

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“Era o primeiro dia de treino bem leve depois de meses de treino pesado. Acordei me sentindo bem, sem dores e orgulhosa por ter conseguido a classificação pra Olimpíada de Inverno de Sochi. Aos 25 anos, depois de três Olimpíadas como ginasta, tinha conseguido me reinventar e provar que também era boa no esqui aéreo. Até vir o acidente e o pesadelo começar”, relembra. “Até que, do nada, bati numa árvore e apaguei. Foi tão, mas tão rápido! Só fui acordar dentro do helicóptero, já recebendo os primeiros socorros. Vomitava muito. Acabei engolindo e aspirando vômito, o que mais tarde descobri ter agravado meus problemas respiratórios. Apesar do susto e do mal-estar extremo, ali já percebi que tinha alguma coisa errada comigo: não conseguia mexer o corpo”.

Desde então, Laís passou seis meses em um hospital em Miami, onde recebeu um tratamento experimental, recebeu três injeções de células-tronco e viu sua lesão ir de completa para incompleta”, o que foi considerado pelo médico um “grande avanço”. Laís voltou ao Brasil no início do ano e dá sequência à recuperação em Ribeirão Preto. Em janeiro, a presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei que lhe concede uma pensão vitalícia no valor de R$ 4.390,24 para auxiliar no processo de reabilitação.

Recentemente, a paulista recentemente assumiu ser bissexual e a informação gerou bastante repercussão na mídia. A ex-atleta afirmou que trata a bissexualidade com normalidade, mas está chateada com a situação e pediu para os holofotes se voltassem mais para maneiras de encontrar a cura para a paralisia do que para sua orientação sexual.

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“As pessoas acham que o que mais mudou na minha vida foi o sexo. Gente, nem de longe essa é a questão! Sou bissexual e todo mundo sempre soube disso em casa. O que tem demais eu já ter namorado homens e mulheres? Preciso focar em melhorar”, desabafou, rechaçando os rótulos que recebeu.

“Hoje estou solteira, mas o sexo é normal: posso beijar, transar e amar da mesma forma. Acontece que esse assunto me chateia. Desde que sofri o acidente, ganhei muitos rótulos. Primeiro, era a atleta acidentada. Depois, a atleta paraplégica. Agora, sou a atleta gay. Eu sou ‘só’ a Laís Souza! Por que minha opção sexual tem que ser manchete?! Quebrei o pescoço, poxa! A gente precisa de manchetes pra isso, pra que cada vez existam mais pesquisas que me tirem da porcaria dessa cadeira!”, finalizou Laís.

Fonte: Terra