A guerreira de hoje chama-se Marcela Campelo, nascida na cidade de Pedro II. Estado do Piauí.

Portadora de tetraparesia por mielopatia secundária ou malformação da transição craniocervical (Nome pequeno,rs).  contudo ficou cadeirante aos 13 anos de idade.

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Como foi sua infância e adolescência?

 A infância foi tranquila, apesar de alguns sinais que algo não estava legal em meu corpo… Já a adolescência foi bem complicada, justamente quando parei de andar.

Qual seu nível de instrução escolar? Fale um pouco de como foi sua vida escolar e acadêmica?

Sou Licenciada em Letras Português pela Universidade Estadual do Piauí, sempre foi muito difícil para eu estudar… Mas por gostar, por teimosia, nunca desisti. Quando parei de andar, fiz provas até no hospital… Entre altos e baixos fui fazendo o que podia, estudando do jeito que dava… Hoje estou concluindo uma pós-graduação.

Qual a sua profissão? Desde quando trabalha? Onde você trabalha? Como se deu sua entrada no mercado de trabalho?  Como é sua relação com os demais colegas de trabalho? Enfrentou ou enfrenta dificuldades no trabalho ou no mercado de trabalho? Quais?

Sou Professora, me formei e trabalho há cinco anos… Fiz concurso público do Estado, e desde que me formei trabalho na Educação. Sempre me relacionei bem com os colegas, no começo senti certo receio deles… Graças a Deus saindo da Universidade já fui direto trabalhar, então as dificuldades no mercado de trabalho foram menores.

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Para você como é ser mulher com deficiência num país, cujo padrão de beleza é o da barbie ( que é ser magra, alta, peituda, saudável, jovem, loira e ter um corpo “perfeito”) Você acredita que as pessoas te veem a partir da maneira como você se sente e se percebe? E como você cuida da sua beleza? Enfrenta ou já enfrentou alguma dificuldade para ter acesso a salões de beleza, clínicas de estética etc? Quais?

É como você ter que virar uma “Barbie cadeirante” rs… O mundo, as pessoas com seus padrões estéticos cobram muito de todos, e como ser cobrada estando numa cadeira de rodas? E mais, atender a tais requisitos? Seja maravilhosa… Se cuide, corpo e mente! Percebi que quando não estive emocionalmente bem, recebia menos elogios, olhares… Cantadas rs! E quando decidi amar meu corpo, me aceitar… Eu atraí as pessoas, é exatamente isso… Você precisa se perceber e sentir admiração por si, daí os outros sentirão… Na maioria das vezes funciona! Amo me cuidar, não vou muito a salão de beleza… Geralmente faço as coisas em casa: depilação a cera, unhas… Só os cabelos que de vez em quando me levam até ao salão. Geralmente encontro muitas dificuldades nos salões, daí tenho que usar da boa vontade que algumas pessoas têm.

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E quando o assunto é a sexualidade das mulheres com deficiência, ainda existem muitos empecilhos? Quais? Como esses empecilhos podem ser desfeitos?

Sim. O problema é que ainda existem muitas mentes fechadas em relação a isso, pessoas fazem sexo! Deficientes ou não, o sexo é para ser tratado como algo natural, mas vejo a curiosidade das pessoas em relação a isso e o espanto com que reagem quando é levado a tona. Acredito que na conscientização, se fossemos tratados de forma natural o assunto não geraria tanta discursão.

No tocante a saúde da mulher com deficiência, os consultórios ginecológicos estão preparados para nos receber? Você enfrenta ou já enfrentou alguma dificuldade para fazer consultas ou exames ginecológicos? Quais?

Moro numa cidade pequena, muitos estabelecimentos ainda não estão preparados para nos receber. A dificuldade mais frequente é a falta de espaço, às vezes para circular dentro do próprio consultório como cadeirante, no meu caso… Mas já existe um consultório sendo preparado, inclusive é o mesmo que frequento. Isso me deixa mais otimista em relação à acessibilidade, espero que a atitude se espalhe (até por que eu cobro rsrs…) e facilite um pouco mais a vida de quem precisa.

Que recado você deixa para nossos gestores e para a sociedade em geral, incluindo os que visitam a Casadaptada?

Bem, a história da pessoa com deficiência já é bastante discutida na sociedade… Principalmente em relação à acessibilidade. Então, o que falaria para a sociedade em geral é que nós pessoas com deficiência queremos tão somente o direito de uma vida com menos empecilhos… Mas para isso precisamos da colaboração de todos.

Ninguém precisar comprar uma briga, o correto é nos unirmos em prol de uma causa nobre.  Que não seja preciso ter alguém com deficiência em casa, ou estar numa cadeira de rodas para ver o quanto a inclusão da pessoa com deficiência é imprescindível. Que não seja preciso sentir na pele para que a sociedade desperte para essa realidade!

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