Carolina e as pessoas com deficiência

O negócio criado e comandado por Carolina Ignarra trata da inclusão de pessoas com deficiência física e/ou intelectual no mercado de trabalho. Por isso, sua consultoria especializada leva no nome o verbo da mudança: Talento Incluir.

Sua própria condição a motivou a criar a consultoria em 2008 em São Paulo. Sete anos antes, Carolina sofreu um acidente de moto e virou cadeirante.

Ela tinha acabado de se formar em educação física. “Três meses depois do acidente, quando eu achava que eu estava inválida, minha gestora me convidou para voltar ao trabalho.”

Aos poucos, Carolina voltou a dar aulas de ginástica laboral, e a procura das empresas pelo seu trabalho começou a aumentar — mas não da forma que ela gostaria.

“As empresas queriam me contratar, fazendo propostas que não combinavam com meu perfil”, conta. “Entendi que elas, pressionadas pela Lei de Cotas, queriam contratar deficiências e não profissionais.”

Foi nesse período que ela percebeu que poderia investir em um negócio que conseguisse integrar as competências dos profissionais com deficiência com as necessidades reais das empresas que querem cumprir a Lei de Cotas.

Hoje, a consultoria desenvolve as empresas e os talentos interessados no sucesso dessa relação.

Segundo Carolina, a maior dificuldade do dia a dia é incentivar a mudança da imagem da pessoa com deficiência, tanto na visão do mercado de trabalho como do próprio profissional:

“Muitas pessoas com deficiência foram paternalizadas e sentem-se pressionadas demais pelo competitivo mercado de trabalho. Tentamos desenvolver o comportamento das pessoas para atuação com mais igualdade na sociedade.”

Carolina estima que mais de 1.000 profissionais com deficiência já passaram pela consultoria. Um deles marcou a trajetória da empreendedora:

“Incluímos um rapaz com deficiência intelectual que era homossexual. Talvez esse tenha sido o mais marcante, pois ele não tem intelecto preservado para falar da homossexualidade dele de forma discreta. Por isso, precisamos preparar a equipe dele para evitarmos exclusão e preconceitos pelos dois motivos. E foi um sucesso o relacionamento interpessoal no trabalho dele. É muito gratificante.”

Com sete anos de mercado, a Talento Incluir já atendeu mais de 300 empresas, como Itaú, Santander, Carrefour, Grupo Pão de Açúcar, Duratex e Gol Linhas Aéreas.

Com um mercado crescente — o IBGE estima que o Brasil tenha 45,6 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência — e poucas empresas que prestam tal serviço, Carolina diz que a crise não chegou à sua firma.

“Estamos fazendo um ótimo ano, com faturamento até acima do esperado. Para o próximo ano, vamos inovar para atender demandas dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro”, finaliza a empreendedora.

 

Dariene e os cadeirantes

Estar na moda chega a ser um detalhe quando você não consegue encontrar roupas que nem sequer se adaptam à sua condição física.

Essa é a realidade de milhares de brasileiros com deficiência — e a principal razão para a fisioterapeuta Dariene Rodrigues ter criado a Lado B Moda Inclusiva, loja virtual que produz peças exclusivas para esse público.

Ainda quando exercia sua profissão, Dariene já sentia a necessidade de peças mais acessíveis para seus pacientes:

“Trabalho há 15 anos com pessoas com algum tipo de deficiência física, como cadeirante, que usa próteses, têm partes do corpo amputadas. Eles sempre reclamavam das roupas. Sem muita opção, usavam moletons e eles próprios tinham de fazer adaptações.”

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Antes de imaginar ter a própria empresa, uma das poucas que existem no Brasil, Dariene rabiscou em 2012 um modelo de calça que seria interessante para seus pacientes.

Ela procurou uma modelista para recriar o desenho, que era uma calça com adaptações, com uma abertura frontal com velcro para facilitar o cateterismo. Tratava-se do primeiro modelo da futura Lado B Moda Inclusiva.

A calça caiu no gosto dos pacientes, e ela começou a apostar em outros produtos. “Fizemos bermudas e outras peças, além de ampliar o leque de deficiências”, conta. A loja foi aberta em 2013.

As peças foram ficando cada vez mais adaptadas, conta a fisioterapeuta e empresária.

“Fizemos calças e bermudas com cós com elástico, para quem usa fralda, além da abertura na frente e abertura com velcro nas laterais, para a pessoa conseguir retirar a calça ainda deitada, com facilidade de vestir e despir.”

Dariene conta que a maior dificuldade é aliar o conforto com a tecnologia têxtil. Muitos produtos, por exemplo, imitam o jeans, mas são tecidos mais agradáveis. “Tentamos unir a funcionalidade com o conforto para facilitar a vida deles.”

Hoje, a empresa tem sede em Sorocaba, São Paulo, e conta com produção artesanal, com preços que variam de R$ 140 a R$ 170.

Os negócios cresceram tanto que a ordem é expandir para todo o Brasil. Ainda para este ano, a loja virtual vai abrir a opção de microfranquia online para quem quiser empreender em outros estados.

“Daremos preferência aos empresários deficientes que queiram levar a marca para outras regiões. Isso vai diminuir o custo de operação e incentivar o empreendedorismo em um público que entende as preferências do cliente”, explica.

 

Fonte: Mulheres viraram empresárias para mudar a vida de minorias | EXAME.com