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13 anos desde o nascimento. Cristian Westemaier, de Jundiaí, se dedica aos estudos e ao esporte.

Os degraus da escada de casa até a rua não são nada se comparados aos que o estudante Cristian Westemaier Ribeira supera na vida desde o nascimento. O adolescente de 13 anos convive com uma doença que contrai articulações, a artrogripose múltipla congênita.

Ele já enfrentou 21 cirurgias desde que saiu ainda bebê com a família de Rondônia para procurar tratamento em Jundiaí (SP). Porém, ele decidiu ultrapassar as dificuldades com o esporte e descobriu no skate uma forma de se desafiar e motivar outras pessoas. (Veja o vídeo )

Skate foi alternativa para jovem se locomover dentro de casa (Foto: Arquivo pessoal)Skate foi alternativa para jovem se locomover
dentro de casa (Foto: Arquivo pessoal)

 

Em entrevista ao G1, Cristian WR, como é conhecido no meio esportivo, conta que a paixão pelas manobras em cima da prancha com quatro rodas surgiu de forma inesperada durante uma das cirurgias. Ir de um cômodo ao outro com as pernas operadas ficou mais fácil quando ele usou um skate emprestado.

“Eu estava com uma ‘gaiola’ que dificultava o movimento e minha mãe deu a ideia do skate. Não demorou em eu me adaptar e me apaixonar”, comenta.

Desde então, há seis anos o adolescente coleciona manobras em pistas e descidas pelas ruas da cidade. Diversão que, segundo ele, não só motiva a se desafiar, mas é um ótimo argumento para reunir amigos e fazer novas amizades. “O skate me ajudou a enturmar, assim como as outras modalidades”, comenta.

Luta pela vida

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é comemorado em 21 de setembro e Cristian é um exemplo de como é preciso batalhar pela vida. O jovem destaca com entusiasmo a luta pela vida que começou ainda no útero, quando o cordão umbilical permaneceu enrolado no pescoço e nas pernas durante a gestação.

Os médicos disseram que eu não conseguiria viver”
Cristian Westemaier Ribeira

Após o nascer e os médicos afirmarem que o menino poderia não sobreviver, a família procurou recursos no estado de São Paulo com algumas peças de roupas e a esperança.

“Nós tivemos que mudar de cidade para procurar tratamento. Primeiro viemos [para Jundiaí] eu e minha mãe e depois o resto da família. Os médicos disseram que eu não conseguiria viver e falaram desde que eu nasci para minha mãe que eu perderia um rim, mas me sinto vivo”, brinca.

A época foi árdua não só pela mudança drástica, mas também pela falta de recursos na nova cidade. De acordo com a mãe do jovem, Solange Westemaier, ela seguiu com o bebê para Jundiaí e contou com a solidariedade de outras pessoas nos primeiros meses de tratamento. Longe da família, a dona de casa lembra que, apesar das dificuldades no passado, o esforço de todos é recompensado com a determinação e positividade do jovem em deixar os problemas de lado.

“Eu faria tudo de novo se fosse preciso, ele é alegre e não nos deixa desistir. Sou suspeita para falar, mas sou apaixonada pelo meu filho e pelo que ele representa não só para nossa família, mas para todos que estão em sua volta. Ele é o meu super herói e aumentou ainda o amor e união que tinha em nossa família”, recorda emocionada.

 

Degraus diários

Cristian conta que as atividades diárias já começam na porta de casa. Como uma espécie de “aquecimento”, a força nos braços compensa as pernas e a escadaria se torna apenas uma etapa do que o espera pela frente.

Cristian faz manobras e arrisca saltos com amigos (Foto: Arquivo pessoal)Cristian faz manobras e arrisca saltos com amigos
(Foto: Arquivo pessoal)

 

“A escada virou uma brincadeira e subo como se fosse um ‘carrinho de mão’. Meu irmão ajuda, mas consigo subir sozinho, principalmente quando quero brincar na rua”, explica. Com toda essa vitalidade, ele ainda se dedica ao atletismo, natação, rollerski – geralmente praticado na neve – adaptado para o asfalto e skatista por hobby.

Todos os dias, a semana é programada com atividades físicas do começo ao fim. De acordo com o jovem, a segunda-feira  começa com atletismo das 7h30 às 8h45, natação das 9h às 10h e depois volta para a casa, toma um banho e vai à escola. Na terça-feira, a natação abre o dia das 8h às 8h45h e com atletismo das 9h às 10h30, seguido de escola. Entretanto, o rollerski tem espaço na quarta-feira das 9h às 10h30. Depois, na quinta-feira, natação e atletismo, novamente. Com tudo isso, a sexta-feira fecha a semana com rollerski das 9h30 às 10h30 e skate das 11h até o horário da escola. Em meio a rotina corrida, o adolescente consegue utilizar muletas, mas evita, devido às dores.

Triathlon Motivation 2016 – Cristian WR :

 

Futuro promissor

Após colecionar medalhas em competições que envolvem as diversas modalidades que ele já pratica, o atleta revela que pretende passar a experiência e o espírito esportivo para, quem sabe, futuros alunos. A faculdade é uma meta na cabeça do adolescente e o curso já está definido: educação física.

“Até lá acredito que a doença tenha ‘estacionado’, assim como a diminuição de necessidade das cirurgias. Então, pretendo me formar e fazer algo pelas pessoas por meio do esporte, pois acredito que o esporte é essencial para todos. Já para quem se acha limitado, digo que não deve desistir e ter disposição e fé”, aconselha.

Adolescente se desafia com manobras em Jundiaí (Foto: Arquivo pessoal)Adolescente se desafia com manobras em Jundiaí (Foto: Arquivo pessoal)

Fonte: G1 – Após 21 cirurgias, skatista ‘encara’ deficiência nas pernas com manobras – notícias em Sorocaba e Jundiaí