Resultado de imagem para lais souza“Aos 25 anos tetraplégica, nunca imaginaria que aprenderia duas coisas. 1) Eu seria independente. Deus me deu a oportunidade de continuar a trabalhar e me sustentar, realizar, sonhar. 2) Eu seria dependente igual todos são, ninguém cresce e vive sozinho.” É com essa frase que Lais Souza – Lalika, para os mais chegados – recebeu cerca 133 mil curtidas em seu Instagram, no último dia 10 de outubro, ao postar uma foto em pé. Lais foi ginasta da seleção brasileira, conquistando quatro olimpíadas e mais de cinco mundiais. Anos depois, ela foi se aventurar como atleta de ski aéreo, mas sofreu um grave acidente em 2014 que resultou na tetraplegia.

Aos 30 anos, voltar a andar é um de seus sonhos, e um aparelho chamado OrthoWalk permite que ela fique em pé e vivencie novamente essa experiência. “Com ele eu resgato a minha autoestima. Tenho essa memória, de ter o olho no olho, que eu acabo perdendo ao ficar na cadeira”, conta a ex-atleta em entrevista exclusiva à Casa Vogue. Desde o acidente, Lais continua batalhando por resultados, faz inúmeras fisioterapias e vive em Vila Velha, no Espírito Santo, em uma casa alugada.

“Fiz algumas adaptações na casa, mas não muitas. Retirei o box do banheiro para facilitar meu acesso, mudei a altura do balcão para conseguir encaixar a minha cadeira-de-rodas e comprei uma cama de casal regulável, que me permite levantar um pouco os pés”, conta a jovem. Mudanças mais específicas serão no futuro, quando realizar o sonho de comprar um lar só para ela e para a noiva Paula Alencar, com quem se casará em janeiro do ano que vem.

Ter uma casa acessível e equipamentos tecnológicos e com design são elementos essenciais para quem, assim como Lais, tem nenhuma ou pouca locomoção e necessita de ajuda diária. Esses quesitos, no entanto, também pesam no bolso. “Um dos grandes problemas desse nosso Brasil maluco é que você não encontra, por exemplo, um carro grande pra receber a sua cadeira lá dentro, com espaço. Ou é muito caro ou você tem que fazer uma adaptação que custa de 30 a 50 mil reais”, explica.

A forma como as cidades foram projetadas também não são gentis aos cadeirantes e chegar até o ponto de ônibus é sempre uma surpresa. “O caminho até lá, você ter que andar pela rua, entre os carros.. É complicado. Porque normalmente as calçadas tem muitos buracos e você acaba correndo esse perigo. Nossas cidades precisam evoluir muito ainda em acessibilidade. A nossa cadeira também quebra muito facilmente. Além de pagarmos caro no conserto, ela demora para ficar pronta. A sorte é que eu tenho mais oportunidade que a maioria dos brasileiros”, acrescenta.

A jovem, que atualmente está cursando História, conta que há tempos vêm “namorando” uma cadeira que só é fabricada nos Estados Unidos e que lembra muito os patinetes elétricos usados por seguranças em shoppings. “Por mais que eu não tenha movimento nos braços, consigo fazer leves movimento de tronco, então poderia dirigi-la”. O preço, no entanto, é salgado: custa em média U$ 18 mil – equivalente a quase R$ 75 mil. Além do valor, outra dificuldade está em chegar até o país, já que a passagem e um cuidador em tempo integral sairiam caros.

“Cada dia é uma barreira que a gente vai encarando, não só eu, mas todos os brasileiros. Você tem que passar por cima do psicológico, há julgamentos. Mas a gente vai seguindo pra não deixar a peteca cair e continuar sorrindo.”, revela Lais

Lais Souza hoje atua como palestrante e estará, inclusive, no Casa Vogue Experience – evento realizado pela Casa Vogue em São Paulo entre os dias 23 e 27 de outubro. Ela se juntará a Mauricio Arruda, arquiteto do programa Decora (GNT), e às cadeirantes Tabata Contri e Cândida Oliveira, que tiveram suas casas adaptadas pelo apresentador e contarão suas histórias na palestra “Casa Adaptada”, no dia 22, às 11h30.

 

Fonte: https://casavogue.globo.com/Casa-Vogue-Experience/noticia/2019/10/nossas-cidades-ainda-precisam-evoluir-muito-em-acessibilidade-defende-lais-souza.html